Boa Páscoa
Quando entramos na semana maior - epíteto que os cristãos dão à Semana Santa - vêm-me sempre um misto de felicidade e de pavor. De felicidade porque sendo católico aí me revejo naquilo que é a essência do catolicismo, - a ressureição -, estes são os caminhos de Fé para os crentes. De pavor porque aquilo que deveria ser a consagração da vida, afinal é um caminho de morte e sofrimento para tantos animais. Animais inocentes sacrificados por algo que eles nem sabem o que significa. É este misto de emoções que me avassalam sempre que se chega a esta festa tão importante. O ser dito humano ainda não percebeu que não é senhor do mundo, muito menos de outros seres, de outras vida que trata com enorme desprezo. Fico sempre dividido, e embora na minha mesa não exista nenhum animal sacrificado, é sempre objeto de um pensamento a todos aqueles a quem foi tirada a vida para o repasto de alguns, que dura apenas algumas horas. Esta será sempre a contradição do ser dito humano, entre tantas outras, onde os valores cristãos parecem estar arredios, ou pelo menos transfigurados para apaziguar as consciências de alguns. Afinal aquele dia que celebra a vitória da Luz sobre as trevas, da Vida sobre a morte, é um dia em que para estes pobres seres a morte se apresenta cruel e definitiva. A morte sem ressurreição, a morte sem pudor. A morte simplesmente. E pergunto-me sempre como é possível assistir a um ritual religioso que celebra a vida, e depois sentar-se à mesa celebrando a morte, o fim de uma vida, dum outro ser. Caminhos ínvios que nunca entenderei. Afinal trata-se mais uma vez das incongruências do ser dito humano. Boa Páscoa para todos, se possível, celebrada sem que outra vida tenha sido sacrificada.
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