Sexta feira Santa
Nesta caminhada para a Páscoa, tenho sempre como referência a Sexta Feira Santa e o Domingo de Páscoa, - o Domingo Aleluia - como se dizia em tempos de antanho. Se na quinta feira se celebra a última ceia, naquilo que é a despedida de Jesus dos seus discípulos, na sexta feira é todo um dia marcado pelo mais forte simbolismo. É a prisão e o consequente processo de Jesus que o levará à condenação, à flagelação e à morte mais horrível que a mente humana concebeu, a morte de cruz. Nesse horrível sacrifício, os condenados poderiam estar a agonizar durante vários dias, dependendo da sua condição física quando chegasse esse momento. Jesus morreria, segundo os Evangelhos, pelas três horas da tarde, o que significa que a sua agonia foi rápida. Muitos pensadores põem em causa esta tão rápida morte, mesmo sabendo que ele teria sido terrivelmente flagelado. Os chicotes na época para este tipo de tortura tinhas nas pontas uma espécie de gancho revirado o que fazia que quando era retirado do corpo rasgava a carne dos condenados. Também sabemos que quando se aproximava o fim, (ou para o acelerar), os soldados romanos quebravam os ossos das pernas dos condenados para que o corpo ficasse pendurado para que a asfixia fosse mais rápida. (Os crucificados acabavam todos por morrer de asfixia). Mas, ainda segundo os Evangelhos, os ossos de Jesus não teriam sido partidos. Como a sua agonia foi rápida pensasse que a sua debilidade física era extrema. Durante muito tempo, ainda dentro de algum misticismo de épocas transatas, se dizia que o céu se tinha toldado a quando da morte de Jesus. Hoje sabe-se, - e os estudos mais recentes mostram -, naquela altura ter-se-ia dado um eclípse que, segundo a tradição, teria decorrido de cerca do meio dia até às três horas da tarde. É um espaço largo para um fenómeno celeste deste género, o que pode indicar algum exagero do evangelista. E então porque é que Jesus foi crucificado? Muitas teorias têm sido expostas, visto a crucificação estar reservada aos maiores criminosos ou a agitadores políticos. (É preciso não esquecer que nesta época, política e religião andavam de mãos dadas). Como Jesus não era um criminoso, logo leva a pensar que seria por questões políticas vs. religiosas que viria a sofrer tão terrível suplício. Aliás, sabemos que Jesus se opunha, em alguns aspetos, à lei judaica antiga e à ocupação da sua terra pelos romanos. Os dois outros condenados que foram supliciados com Jesus, e que foram sempre associados a dois ladrões, hoje é consensual que eram eles também agitadores políticos anti ocupação romana, que fariam parte duma seita que passou à História com o nome de 'Ḥaxāxīn', (que gerou o termo 'Assassinos' que, segundo alguns, ainda existe) o que conduziu talvez à descaracterização da História. Estas clarificações que os tempos modernos nos vão revelando, não escondem duas coisas: a primeira, o terrível suplício que era a crucificação; e, segundo, o inenarrável sofrimento dum Homem, - Jesus como outros que antes e depois o sofreram - pela libertação dum povo e a criação dum dos maiores movimentos religiosos da História. Jesus sofreu mais porque era um Homem esclarecido face a um povo idólatra e inculto, e Roma não podia permitir isso. É esse sacrifício terrível que hoje celebramos em Sexta Feira Santa, que para além do seu simbolismo religioso representa também a luta pela liberdade dum povo escravizado, antes no Egito, - os judeus são um povo de diáspora - depois na sua própria terra.
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