A crise financeira e a recessão - XII
Temos vindo a assistir à queda da inflação mês após mês, o que levaria a indiciar a proximidade duma deflação, que ninguém deseja. Contudo, e num movimento contrário, a economia portuguesa vem dando sinais de recuperação, firme e sustentada, que de algum modo contraría o que atrás dissemos. Portugal vem mesmo a registar um dos movimentos de crescimento económico, mais firme e acentuado, de toda a zona euro, contrariamente à nossa vizinha Espanha, que continua mergulhada numa crise profunda e donde não são visíveis sinais de recuperação. Estes movimentos que se registam entre nós, são um tanto ou quanto, contraditórios, não dando ainda para perceber da justeza daquilo com que no futuro nos iremos confrontar. Por outro lado, os bancos vão dando sinal de que não aprenderam com a crise, insistindo em políticas e estratégias em tudo idênticas às que verificamos no passado recente e de triste memória. E não pensem que é só em Portugal que isso acontece, até vos podemos dizer que em Portugal é onde se vê menos essa situação, mas que também existe. Paralelamente, as bolsas - e o PSI-20 não é excepção -, têm vindo a registar um crescendo que não é habitual, isto é, as bolsas estão a crescer rapidamente, diríamos, rapidamente de mais, face aquilo que deveria acontecer. Isto está a conduzir a uma nova euforia bolsista que pode ser prejudicial. Temos algumas dúvidas sobre este crescimento tão rápido, e recomendamos prudência, algo de anormal está a acontecer e é preciso que deixemos correr o tempo para o percebermos em toda a sua extensão. Já aqui defendemos - no mês anterior - uma asserção do Prof. Paul Krugman, prémio Nobel da Economia em 2008, de que podemos estar perante um sinal de crise em M, isto é, embora estejamos numa situação de aparente saída da crise, pudemos vir a ser confrontados com uma nova crise, ainda mais profunda do que a anterior. A futurologia aqui não tem sentido, mas temos que ter a capacidade de ler os sinais que a realidade, a todo o momento, nos mostra. O poder político nada diz sobre isto, o que é compreensível para não criar pânico nas pessoas, mas vai dando indicações para uma gestão financeira doméstico o mais rigorosa possível. A economia, como ciência social que é, não pode ser testada em laboratório, mas não esquece-mos que é uma ciência baseada em expectativas, daí a prudência dos políticos. Assim, somos de opinião que devemos ter alguma contenção nos gastos, definir com cuidado as aplicações a fazer, não embarcando em operações pouco claras e de risco muito elevado, e se somos pessoas que gostamos de investir na bolsa, devemos fazer esses investimentos selectivamente e estar atentos aos movimentos diários, tentando, se possível, antecipar a realidade. Nenhum economista vos puderá prognosticar o futuro, mas devemos ter todas as cautelas do mundo, sobretudo nestes momentos de indefinição que se vivem um pouco por todo o lado. Vamos aguardar para ver. Parece que o cenário de recessão está mais afastado, o que é bom para nós, a confiança dos consumidores está a restabelecer-se, embora o investimento ainda dê sinais de retraímento. Daí que a prudência seja, de facto, a melhor atitude a ter enquanto não ficar mais claro a tendência da economia duma forma decisiva e sustentada.
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