A crise financeira e a recessão - XXXVI
Assistimos ontem ao anúncio daquilo que poderíamos chamar de PEC III. São medidas duras como já não víamos à muito entre nós. Embora necessárias, - penso que ninguém tem dúvidas disso -, também não deixam de mostrar um certo sentimento de frustração, porque tardias, e daí a sua dureza. Era por demais evidente que o PEC I e o PEC II não estavam a resultar, acrescido pela ineficiência do Estado em aplicar a si próprio as restrições que estava a pedir a todos nós (veja-se o caso das Águas de Portugal). Os mais sacrificados, desde logo, são os funcionários públicos. Não nos sentimos muito tristes com isso, visto termos conhecido por dentro o funcionalismo público e sabermos da sobranceria com que olhavam para os restantes, com um verdadeiro sentido de impunidade que o patrão Estado lhes conferia. Ser funcionário público em Portugal foi, durante demasiado tempo, o símbolo de pouco trabalho e muitas regalias, mas parece que o "El Dorado" acabou. Agora terão que lutar por um lugar como todos os outros trabalhadores, sujeitos às avaliações, cada vez mais rigorosas, da sua entidade patronal. O aumento do IVA - e logo em dois pontos percentuais - para além de nos afectar a todos, com um impacto imediato na subida dos preços, vai retirar, ainda mais, competitividade à economia portuguesa, já de si bastante adormecida. Para equilibrar tudo isto, tirou-se da cartola mais um coelho, a saber o fundo de pensões da PT. Este fundo virá, quase a cem por cento, resolver o déficit das contas públicas para este ano, mas convém que se tenha a noção de que o Estado criou um ónus a si próprio que terá que resolver. Os funcionários da PT é que não devem ter ficado muito satisfeitos. Quanto à manutenção das pensões, é talvez a medida mais dramática, sobretudo, com os preços a aumentar, como será o caso, os pensionistas sentirão na pele as agruras dum fim de vida cada vez mais depauperado. De tudo isto que ouvimos ontem, fica-nos a sensação de medidas muito duras por tardias, e se tivessem sido implementadas a quando do PEC I não seriam tão gravosas. Mostra assim, a ineficiência do governo, e uma certa deriva que não se compreende bem na sua total dimensão. Parece que tudo se está a centrar na componente financeira esquecendo-se a económica. O ministério da economia parece que não existe e, o mais preocupante, é que não se vêm medidas complementares para estimular a economia. Com o desemprego a atingir níveis cada vez mais assustadores - e que é nossa convicção que vão aumentar ainda mais, sobretudo depois destas medidas ontem anunciadas -, não se vislumbra nada que dê um sinal duma estratégia futura, a nível económico, para dinamizar o país. Como já vinhamos a dizer a algum tempo atrás, a economia portuguesa está à beira duma nova recessão. Penso que com estas medidas, ela aparecerá mais rapidamente do que pensavamos que viesse a acontecer. Estamos convencidos de que ainda este ano ela aparecerá. Portugal está a passar um dos momentos mais difíceis da sua vida, e o mais grave é que, quando se fala do governo parece estarmos a ser redutores, porque um qualquer outro que por aí apareça não cremos que faça melhor. Nem sabemos se alguém está disponível para assumir a governação na actual conjuntura. (Já agora, será bom verificar o comportamento do PSD, visto que, com estas medidas do lado da despesa, retiram um espaço importante a tudo aquilo que vinham dizendo). Aquilo que fica é que vamos passar, todos, momentos muito difíceis, sem que tenhamos a percepção de que existe futuro mais à frente, sobretudo um futuro risonho, que volte a por o nosso país no rumo do desenvolvimento.
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