Turma Formadores Certform 66

Thursday, February 10, 2011

Equivocos da democracia portuguesa - 70


Após as eleições presidenciais, como já era de esperar, a direita, e não só, começaram a afiar as facas com vista a provocarem uma alteração governamental. Desde logo, o CDS/PP com a tentativa de formar um acordo pré-eleitoral com o PSD. Paulo Portas não esconde a ansiedade de voltar ao governo, nem que para isso tenha que recorrer a atitudes populistas - que são normais nele -, para ver se consegue atingir os seus fins. Depois, foram as trapalhadas do cartão de eleitor, que veio pôr em causa o MAI, assunto que ainda não foi, na nossa opinião, cabalmente esclarecido. Agora, veio o Prof. Marcelo Rebelo de Sousa, que à quinze dias, no programa que tem na TVI, afirmou que o PSD deveria deixar o governo cumprir a legislatura. Na semana passada, em entrevista à SIC veio dar o dito por não dito, afirmando que afinal acha que o governo não irá cumprir a legislatura, e que o PSD - que ele acusava de ter muita pressa para ir para o poder - deveria criar dificuldades na aprovação do próximo OE para 2012, vindo a criar um cenário de eleições para o início do próximo ano. Mas lá foi afirmando que se deveria esperar para ver se a situação económica melhora. Quer isto dizer que o PSD está à espera que a situação do país comece o ciclo de ascensão para aparecer como o partido que resolveu a crise. Penso que esta afirmação, tão despudorada, não nos pode deixar indiferentes. Como já afirmamos diversas vezes neste espaço, este governo é culpado de muitas coisas que correram mal, mas também não podemos esquecer que está a pagar algumas das políticas erradas e compromissos assumidos no passado - inclusivé de governos do PSD - como irá acontecer com os governos que vierem a seguir e que daqui a dez ou vinte anos vão ser confrontados com as estratégias e compromissos deste governo. Não pretendemos branquear o que de mal este governo tem feito, que tem sido muito, mas não podemos deixar de alertar para uma trapassa que se pretende vender aos portugueses. Já temos tempo suficiente de democracia para entender tudo isto, embora, muitos de nós continuem a olhar para os partidos, não tanto naquilo que de bom podem trazer para o país, mas como se de um clube de futebol se tratassem. No meio de tudo isto, surgem as palavras sempre atentas e sábias de Manuel Maria Carrilho. Este lúcido histórico socialista vem chamando a atenção para aquilo que de mal se prefila na democracia portuguesa. Foi com agrado que vimos MMC a defender uma posição já por nós aqui defendida desde a vários anos, de uma refundação da nossa democracia. Estamos perante um facto incontornável que todos devemos olhar com a máxima atenção. De facto, nós subscrevemos as palavras de MMC quando defende "que se deve pensar numa nova República e num novo PS". Nós vamos mais longe, porque achamos que não chega um novo PS, mas também, um novo PSD, um novo CDS/PP, um novo PCP, um novo BE. Porque os partidos são a essência da democracia, não podemos ficar agarrados a um só partido, daí o acharmos que todos os partidos deveriam reformular-se, para bem do próprio regime. As populações começam a ficar fartas de tudo isto, a carga fiscal é imensa, as dificuldades são muitas, e tudo isto, não foi provocado por cada um de nós, embora nos façam acreditar nisso. Porque foram políticas anteriores que nos venderam este "El Dorado" onde não havia mais nada do que ilusões. E neste capítulo não foi só o PS o responsável, embora também tenha o seu quinhão na matéria. Vemos como, noutras latitudes, as populações fartas se levantam contra os que os governam, e não pensem que em Portugal, um dia será diferente. Antes que tal aconteça, para bem do país e das populações, façamos uma reflexão sobre tudo isto, antes que seja tarde demais, e andemos depois, a tentar, à pressa, resolver aquilo que não fomos capazes de resolver com tempo. Nestes períodos de forte restrição que estamos a viver, vamos ver com atenção, como o PR vai actuar. Ele prometeu que seria um factor de estabilidade para o país. Contudo, o seu discurso de vitória deixou-nos preocupados, veremos se estamos enganados, ou se Cavaco Silva se irá posicionar para levar os seus para o poder, algo que a direita vem aspirando praticamente desde o 25 de Abril de 1974. (A sua magistratura activa já começou, quando anteontem vetou, pela primeira vez, um decreto emanado do próprio governo). Estejamos atentos para que, mais uma vez, não nos vendam gato por lebre. Ao fim e ao cabo, a democracia tem no povo o seu elemento primeiro, daí a sua força, mas para ela ser eficaz, temos que analisar bem as situações antes que seja tarde de mais. Já agora, vão ao YouTube e visualizem o vídeo dos Deolinda, no Coliseu do Porto, com o nome "Que parva que eu sou". Estejam atentos à letra e vejam a reacção dos jovens presentes. Esta pode ser a geração "nem-nem" mas também é uma geração desesperada; e um povo desesperado, por vezes, perde o discernimento. Estejam atentos aos sinais antes que seja tarde demais. Mas os equívocos não ficam por aqui. Neste mar de contradições, assistimos na passada segunda-feira, dia 7 do corrente, à primeira operação de colocação de dívida em bancos portugueses. Mas o que mais se destaca de tudo isto é que, - a banca internacional que foi a principal responsável pela situação que existe hoje no mundo -, foi bem representada pela banca nacional no último leilão de dívida que o governo português colocou. Esta cobrou um juro mais elevado do que aquele que os mercados internacionais nos têm levado!!! É sintomática a usura que estas instituições têm, mesmo tratando-se de bancos nacionais com lucros imensos e que pelos vistos até conseguem pagar menos impostos com mais lucros!!! Fernando Ulrich, o homem forte do BPI, afirmou anteontem que "gostava um dia de vir a ser deputado"!!! Se com os que temos já passamos um mau bocado, imaginem agora que, os nossos banqueiros descobrem a apetência para a política. Estejamos atentos aos sinais...

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