Turma Formadores Certform 66

Friday, January 21, 2011

Equivocos da democracia portuguesa - 67


Nesta campanha presidencial assistimos a tudo aquilo que de mau a política nos pode dar. Falou-se de tudo, mas não se falou do essencial, isto é, daquilo que preocupa todos os portugueses, a saber, as dificuldades porque estão a passar sem disso serem responsáveis, e a grande incógnita de saber se os sacrifícios que todos nós estamos a fazer vão ou não valer a pena. Nesta "campanha desbragada" - (Mário Crespo dixit - SIC Notícias) - a que assistimos, ouvimos falar do artigo das espingardas do candidato Manuel Alegre, ouvimos falar do medo trazido pelo candidato Fernando Nobre, ouvimos falar dos "complots" do candidato Defensor Moura, ouvimos falar negativamente de tudo do candidato Francisco Lopes - com a habitual "confusão" do PCP entre buscar o tempo de antena para as presidenciais pensando que está nas legislativas, ouvimos o "populismo" do candidato saído das escolas do PCP, José Manuel Coelho, que dispara em todas as direcções - talvez dizendo aquilo que muitos pensam e não têm coragem de dizer "(vox populi vox dei)", ouvimos falar de negócios tortuosos de casas de férias no Algarve e negócios promíscuos no BPN e, como se tudo isto não bastasse, ainda viemos a saber pela boca do candidato Cavaco Silva, o valor da reforma "paupérrima"(!) da sua mulher!!! Mais recentemente, viria a apelar à manifestação pública dos defensores do financiamento do ensino privado (!) - talvez, porque os seus netos andam em escolas privadas? Qualquer dia ainda veremos Cavaco Silva à frente da Intersindical!!! Caso Cavaco Silva ganhe, - como tudo leva a crer -, como será a coabitação no futuro, depois do incentivo à inssureição e às críticas que fez ao governo? Ou será que pretende - como o próprio já "previu" - criar uma crise política para colocar o seu partido no poder? Enfim, pensamos que merecíamos algo de melhor. Nesta campanha pobre, sem ideias, sem nomes de peso, ficou reduzida a meia dúzia de pessoas que ninguém parece interessado em ouvir. Onde estão as grandes propostas para o país? Quem veio questionar que os juros que vamos pagar pelos empréstimos obtidos, são absorvidos pela redução de salários dos funcionários públicos, pela dotação para o Serviço Nacional de Saúde e pelo apoio à acção escolar? (Estes sacrifícios, em conjunto, apenas servirão para pagar o serviço da dívida e não para amortizar qualquer valor!). Que país vamos ter daqui a dez anos e que condições criaremos até lá, para pagar os empréstimos e os encargos que geramos neste momento? E para aqueles que geramos a vinte anos? De tudo isto, nem uma palavra. Ou porque não sabem bem o que dizer, ou porque andam "entretidos" com outras coisas. Nem Cavaco vai mais além, refugiando-se no "não faço comentários" a que nos habituou durante cinco anos como PR e dez como PM. Afinal até acha que não deve dizer nada, porque como todos sabemos ele está acima de tudo isto. Ele "nunca se engana e raramente tem dúvidas"!!! Agora, acha que uma segunda volta tem custo incomportáveis para o país!!! Afinal de que tem medo Cavaco Silva se as sondagens lhe dão uma ampla vitória? Assim, fica a sensação de vazio. Quase trinta e sete anos após o 25 de Abril de 1974, parece que voltamos ao círculo infernal da descrença e do fatalismo. A única coisa que, segundo nós, valeu a pena, foi a afirmação de Defensor Moura, que muito nos entusiasmou, sobre a defesa dos animais. Foi o único a falar no assunto, e podem crer que não foi por puro eleitoralismo. Defensor Moura enquanto presidente da Câmara de Viana do Castelo, foi o homem que proíbiu as touradas no distrito. Só por isso, merece o nosso apoio. Porque como bem disse um conhecido humorista português, "o nível de desenvolvimento dum país, mede-se pela maneira como trata os seus animais". Mas tirando isso, esta foi a campanha da nossa vergonha, onde se delapidam fundos públicos para este triste espectáculo. Como diz um provérbio inglês "if you pay peanuts, you get monkeys", só que aqui os dinheiros gastos são bem mais do que simples "peanuts". Esta é a "classe política" que temos, que cada vez mais vem desenvolvendo o "conceito de seita", - que tão bem foi retratado por Orwell -, para se proteger de todas as críticas. Olhando para tudo isto, ficamos com a sensação de que estamos dentro duma peça de teatro, como aquela que tão bem foi escrita por Guerra Junqueiro e Guilherme de Azevedo (este sob o pseudónimo de Gil Vaz) com o título "Viagem à roda da parvónia" (1879). Texto de uma tremenda actualidade que recomendamos que leiam. Lá encontrarão o Portugal do século XIX, mas também, o Portugal dos nossos dias. Este conceito mimético que cultivamos, dentro do pensamento tão bem definido de Daniel Bell, continua a ser aquele que habita a nossa existência. No fundo, como diz o politólogo José Megre, "isto ainda é o que resta de quatrocentos anos de Inquisição e de quarenta e oito de fascismo". O que significa que ainda não caminhamos o suficiente para ultrapassar estes fantasmas, se é que os ultrapassaremos algum dia. É com este espírito que vamos eleger a primeira figura do Estado, é com este espírito que vamos a votos... (quanto a nós, não nos revemos em nenhum dos candidatos).

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