Noite de Reis Magos
Nesta celebração da Epifania, nesta Noite de Reis, que esta noite celebramos, olhamos para trás e vemos que afinal, neste ciclo natalício que agora se encerra, os portugueses continuaram a gastar muito dinheiro - mais uma vez se bateram recordes - a dar muitas prendas e a receber muitas prendas, também. Afinal o Natal é, cada vez mais, um Natal de prendas, e das duas uma: - ou a crise não existe e, afinal, não nos disseram a verdade; - ou, somos todos irresponsáveis, e não temos bem a noção do ano que nos espera e que agora começou. Depois lamenta-mo-nos de que os jovens já não são o que eram, afinal "a geração rasca" existe, etc., etc., etc. Mas que fizemos nós para ser diferente? "A nossa juventude está decadente e indisciplinada. Os filhos já não escutam os conselhos dos mais velhos. O fim dos tempos está próximo"... por incrível que pareça, este comentário tão pessimista acerca da juventude foi escrito por um caldeu há já 4.000 anos! O que prova que as crises sociais de que hoje nos queixamos, nomeadamente a crise da educação e da juventude ligada umbilicalmente à crise da família, já vêm de muito longe: fazem parte da nossa história e continuarão a fazer. Claro que hoje as manifestações dessas crises têm outra visibilidade e muito maior poder de contágio... Para o bem e para o mal, há, de facto, circunstâncias e factores novos. Mas no fundo, como diz a Bíblia, "não há nada de novo debaixo do sol". E que fazer, então? Antes de mais, nunca pensar que a solução estaria no regresso ao passado. Como se sabe hoje, cada vez melhor, não há passados perfeitos. O caminho da solução passa sempre por uma análise fria da realidade e a identificação das causas que a explicam, e agir em consequência. A educação foi e será sempre um desafio e uma tarefa que exigem muita atenção, lucidez e coerência. Ser família - viver em comunhão, num clima de liberdade e de igualdade e, ao mesmo tempo, de interdependência e de inteira solidariedade - nunca foi, nem é, nem será fácil. Mas não tentar sê-lo é renunciar à nossa vocação fundamental e à realização positiva da nossa vida. Seria ainda fechar a primeira e insubstituível escola da vida e para a vida. Quando as gerações, nomeadamente, as mais jovens, crescem sem valores, onde a dádiva de presentes - de preferência caros, para impressionar - é o mote, que devemos esperar. Se crescemos sem valores, não teremos capacidade de os incutir às grerações vindouras. Afinal, nós que tanto pensamos em dar presentes, será que pensamos no essencial, que é dar-nos a nós próprios, à causa comum de ajudar os mais necessitados? Reflictamos nos presentes que os Reis Magos - que hoje celebramos - ofereceram ao menino Jesus, ouro, incenso e mirra. Presentes pobres, o ouro seria o mais valioso, mas corria-se o risco de ser assaltado com ele no bolso, o incenso e a mirra, teriam um valor mais simbólico que material. Mas, se reflectirmos naquilo que S. Mateus escreveu, talvez faça sentido. "Eles deram aquilo que mais precioso tinham". Deram, para além do valor, aquilo que para eles tinha mais valor. Deram-se a si próprios, quando vieram na demanda do Salvador nascido em Belém. É essa dádiva de nós mesmos que é fundamental, e que não se vê em lado nenhum. Essa é que é a verdadeira prenda e, neste ano que começa, - que se anuncia difícil -, talvez seja a maior de todas, a prenda da dádiva pessoal, a prenda da solidariedade para com o próximo. Já agora, se conhecerem alguém que seja cristão copta, não deixem de lhe desejar um Feliz Natal, porque para os coptas é, no dia de hoje, que se celebra o Natal.
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