Turma Formadores Certform 66

Monday, December 13, 2010

No 102º aniversário de Manoel de Oliveira


Sábado passado, dia 11, comemorou-se o 102º (!) aniversário de Manoel de Oliveira. Um homem de extraordinária longevidade, com uma capacidade de trabalho única, que ainda trabalha e que diz que "com esta idade tenho que andar depressa, porque não irei estar por cá muito mais tempo, e ainda tenho vários projectos em mente" (!). Isto são homens duma outra fibra, bem diferente, ao que parece, daquela que é atribuida ao comum dos mortais. Manoel de Oliveira, um portuense de gema, começou a afirmar-se sobretudo no outono da sua vida. Para além de "Aniki Bobó" que aparece nos anos gloriosos do cinema português, ele só mais tarde veio a ter o reconhecimento internacional que hoje tem. Nisso é muito semelhante ao percurso de José Saramago que, editou o "Levantados do chão" já com cerca de 58 anos de idade. Mestre Oliveira é mais conhecido e celebrado no exterior do que entre nós, mantendo assim, a sina dos artistas portuguesas quando avaliados pelos seus compatriotas. Ele próprio reconhece que os seus filmes não são vistos em Portugal, contudo, mestre Oliveira é uma referência internacional desde à muito tempo, o cineasta mais velho em actividade. Naturalmente, e como é comum entre nós, quando Manoel de Oliveira morrer, vão-se fazer grandes laudas à sua vida e obra, muitos "intelectuais" do burgo - que nunca viram um filme dele - vão dissertar sobre os seus filmes com o seu "profundo conhecimento" de intelectuais de pacotilha. Serão editados em DVD os seus filmes, que serão adquiridos pelos bem-pensantes de cá que, como acontece com os livros, é bonito ter e mostrar, como símbolos de cultura!!! Isto faz-me recordar quando, já lá vão alguns anos, me cruzei com um amigo que me disse, entusiasmado que ia ver as "Bodas de Fígaro" de Mozart. Sabendo que a música não era o seu forte, muito menos a ópera, questionei-o sobre isso mesmo. A resposta foi sintomática, "vou lá estar, na primeira fila, porque estou ao lado do presidente da Câmara, mais umas tantas individualidades, o que seria bom para a minha carreira". Aproveitou para me pedir que lhe fizesse um resumo da estória, porque ele não a conhecia, para não ficar mal junto dos seus pares (!). Esta é a nossa brilhante intelectualidade. Se calhar é por isso que somos o país que somos, por mais esforços para mudar de rumo. Mas enfim, é de mestre Manoel de Oliveira que estamos a falar, porque este é que é o assunto de hoje. Pois parabéns mestre, e que esta data se repita por muitos anos, são os meus sinceros votos. São de portugueses cultos e esclarecidos, como mestre Oliveira, que este país precisa desesperadamente. E para aqueles que ainda duvidam da sua vitalidade aqui fica um endereço do youtube - www.youtube.com/watch?v=NDFDpXITOoA (basta clicar em cima) - para verem o que um espírito jovem é capaz de fazer, neste cinzentismo que continua a ser este país e a sua pseudo-intelectualidade. Só lhe peço perdão, mestre, pelos votos tardios, mas como diz o ditado, "mais vale tarde do que nunca".

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