Equivocos da democracia portuguesa - 60
Temos, como já o dissemos por diversas vezes, alguma admiração e até expectativa sobre Pedro Passos Coelho. Por ser um líder jovem, com uma outra visão da política, e com novas ideias que permitam fazer um "refresh" da política e dos políticos que foram cristalizando ao longo dos anos. Contudo, começamos a ficar preocupados com aquilo que vemos e ouvimos nos últimos tempos. Vemos com alguma surpresa, o constante alterar do discurso, o dar o dito por não dito, dentro daquilo que tanta escola tem feito na nossa democracia. Antes foi o "aprova" / "não aprova" do OE, agora é a ânsia de chegar ao poder a qualquer preço, ele que tinha sempre dito que daria tempo ao tempo. Na semana passada, numa infeliz entrevista o Expresso, Passos Coelho não resisitiu às perguntas muito asservas e inteligentes da jornalista. Chegou ao desaforo de dizer que está preparado para governar com o FMI!!! Até Marcelo Rebelo de Sousa achou um pouco de mais. Quando os actuais responsáveis têm no discurso oficial a não entrada do FMI, esta afirmação causa, não só perplexidade, mas sobretudo, muita preocupação. Na actual conjuntura, quando os seus pares dizem que é melhor deixar passar a "tempestade", quando os consultores económicos do partido vêm dizer que um governo do PSD não faria diferente do actual de Sócrates, Passos Coelho já fala em oito anos(!) para o seu projecto. Mas vai mais longe, quando diz que mesmo que tenha uma maioria absoluta convidará para o governo o CDS/PP! Julgamos que estará a pensar em alargar a base de apoio do futuro governo, mas daí a atribuir pastas a outro partido vai uma grande distância. O PS diz que estamos perante um líder "imaturo", não queremos comentar o qualificativo, mas, de facto, parece haver algum amadorismo, alguma impreparação para quem quer ser o futuro primeiro-ministro. Para dar uma ideia de como se vive este sentimento com um misto de euforismo e preocupação, mesmo dos mais comprometidos com o PSD, diremos que, na semana passada almoçamos com uma economista muito comprometida com o partido. Durante o almoço ela afirmou se temos alguma confiança no actual líder, com esta deriva de discurso que todos os dias nos surpreende. Não deixa de ser sintomático da reserva que existe, mesmo dentro do PSD, e logo, dos mais comprometidos. Como já o dissemos por várias vezes, a actual situação do país não depende tanto do governo, porque seja ele qual for, terá que aplicar as mesmas medidas. O problema é mais profundo do que uma simples troca de rostos na governação.
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