Equivocos da democracia portuguesa - 57
Ontem os juros da dívida portuguesa a 10 anos voltaram a subir para os 7,1%. Isto é muito preocupante, sobretudo, pelo facto de após a Irlanda ter recorrido ao fundo europeu e concomitantemente ao FMI. O mesmo se verifica na Grécia que, mesmo após a intervenção do FMI, está a sofrer novo ataque especulativo dos mercados. Para além de tudo isto, parece que o Governo quer pôr alguns portugueses ou algumas empresas fora da crise!!! Quando todos nós somos convocados para enfrentar a crise, o Governo fez passar na AR, - na discussão na especialidade do OE -, uma alínea que faz com que algumas empresas, fiquem fora dos cortes salariais já anunciados para todos nós. Por exemplo, pode acontecer que a PT, ou a RTP, ou a TAP, ou uma Câmara Municipal qualquer, não tenha que aplicar cortes salariais. No limite pode até acontecer que um trabalhador duma dessas empresas públicas ou com capital maioritariamente público pode não ver o seu salário reduzido!!! Afinal a crise é para todos ou só para alguns? Porquê esta excepção que surpreendeu todos nós? Porque é que o PSD se absteu para facilitar a aprovação da proposta? (Daí a diferença não ser nehuma entre estes dois partidos, e novas eleições não irem resolver nada, a não ser, termos novas caras na AR). Estas são questões sérias e graves que merecem um comentário político o mais urgente possível. Ninguém compreende isto, e se não for devidamente esclarecido, pode levar a um grave conflito social. Mas os equívocos da nossa democracia continuam como uma novela. Agora foi o Prof. Nogueira Leite, consultor económico do PSD, - o tal que acha que este Governo é semelhante a belzebú - afinal veio desmistificar uma questão que, já aqui neste espaço, vínhamos defendendo à mais de um ano. Disse ele que "Cavaco foi o verdadeiro criador do "monstro" que hoje ele tanto critica", imputando a terceiros a sua paternidade, diríamos nós. Finalmente parece que alguém veio a terreiro esclarecer as falsidades que o PSD vinha dizendo durante anos. Talvez estas afirmações tenham criado algum desconforto dentro do PSD, mas pelo menos falou-se verdade, embora tardiamente. Mas como diz o povo "mais vale tarde do que nunca". Cavaco que, para além de ser um economista emérito, também comete erros. À dois dias afirmou na Universidade Católica que a dívida portuguesa está alinhada pela média europeia. Nada mais errado. A dívida assumida e inscrita sim, mas não devemos esquecer que para além desta, existe uma parte de projectos já assumidos e identificados que elevam a dívida muito acima da assumida, - veja-se o estudo que o BPI fez sobre esta matéria -, e isso leva à desconfiança dos mercados sobre Portugal, acrescida pelo falhanço orçamental deste ano que se vai verificar, que condiciona aquilo que os mercados acham que será a execução orçamental em 2011, de modo a atingir os valores acordados com a UE. Em torno de todos estes equívocos fica a sensação de que, o Governo está descredibilizado e, sobretudo, o seu ministro das finanças. Como já dissemos várias vezes, o Prof. Teixeira dos Santos é uma pessoa que conhecemos pessoalmente e sabemos da sua enorme competência, daí a dificuldade em aceitarmos os vários deslizes e derrapagens que não foi capaz de evitar. Temos um PR que já está em campanha eleitoral, que quer impressionar com a sua sapiência. Afinal é o homem "que nunca erra e raras vezes tem dúvidas", como ele próprio, em tempos afirmou. Como atrás demonstramos parece que não é tanto assim. Mas os equívocos continuam. O escândalo de alguns grupos empresariais que estão a antecipar a distribuição dos dividendos para este ano de modo a que os accionistas não sejam penalizados pelas novas directivas fiscais. Isto é uma vergonha. Para além do aspecto legal - que até pode permitir esta situação - temos o aspecto moral, o sentido que é dado à sociedade não é o melhor, e os portugueses estão atentos a tudo isto. A nossa democracia está numa verdadeira encruzilhada que é muito grave podendo mesmo vir a pô-la em causa. Temos que estar todos mobilizados para enfrentar esta crise, mas temos que ser todos, e não apenas alguns, face a outros para quem a crise não existe, nem nunca existiu. O sentimento popular aí está na rua com a greve geral de hoje. Mas a greve não acaba com a crise, fica apenas o sentimento da população e o aproveitamento político de uns tantos...
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