A crise financeira e a recessão - XXXIX
O OE lá vai fazendo o seu percurso na especialidade, esperemos que sem dar o triste espectáculo da negociação na generalidade. É um mau orçamento, - recessivo, quanto baste -, como já aqui o referimos por diversas vezes, mas pensamos que seria muito difícil apresentar outro alternativo, mesmo que o governo fosse detido por uma outra força parlamentar. Mesmo dentro do PSD isto é consensual - vejam-se as afirmações de Pacheco Pereira e mesmo de Manuela Ferreira Leite - porque esta crise não é uma crise provocada por um governo, mas sim, uma crise global que muito tem castigado a Europa. Em entrevista dada a Mário Crespo, à dias na SIC Notícias, o Prof. António Nogueira Leite, ilustre economista do PSD, que vê neste governo uma espécie de "belzebu", - até ele -, acabou por reconhecer que se o PSD estivesse no governo as coisas não se passariam de maneira diferente. Julgamos que já é tempo de começar a haver alguma seriedade política - tão descredibilizada que anda a política pela falta dela - para que o interesse nacional se sobreponha ao interesse partidário. Essas indecisões têm-nos custado caro, é ver a evolução dos juros que recaem sobre a dívida soberana de Portugal. À dias, Ricardo Salgado, presidente do BES, dizia que esta é uma situação induzida, e pôs o dedo na ferida, quando acusa a Sra. Merkel de estar a criar uma situação insustentável na Europa, com o compadrio da França, com o tema das penalizações aos países que não cumpram as metas do déficit, bem como, aos investidores que comprem títulos da divída soberana desses países. É certo que, estas indicações são válidas para os países mais pequenos e periféricos como Portugal, porque a Alemanha e a França - principais signatários desta moção - também não estão a coberto do famoso déficit, mas desses ninguém fala. Será interessante analisar o percurso da evolução económica e financeira da França e de Portugal, e se o fizerem talvez tenham uma surpresa da qual nem imaginam que exista. É certo que a banca foi a causadora de tudo isto, sobretudo, com a especulação desenfreada e a ganância desmedida, mas o sistema financeiro é que determina o ritmo e, como tal, está sempre resguardada pelos políticos, e não me refiro só aos políticos portugueses. Contudo, nem tudo são más notícias, e a estimativa rápida do INE dá indicações muito interessantes e, o espectro duma recessão para este ano foi afastada, com a divulgação dos indicadores da economia portuguesa referentes ao terceiro trimestre. É certo que o crescimento é débil, mas é crescimento, sustentado sobretudo pelas exportações e, é bom salientar, que é o melhor desempenho dos países periféricos. Há até quem considere este valor como fantástico, contudo, nós achamos que devemos ser mais prudentes, para ver se se confirma esta tendência no futuro. Mas tal retira algum espaço aos profetas da desgraça que por aí andam, a tornar ainda mais negro aquilo que já é, por si só, bastante escuro. Alguns políticos da nossa praça, devem estar incomodados com estes números, e estão seguramente a preparar as suas justificações, porque para alguns destes políticos menos sérios, a teoria do quando pior melhor, parece ser o lema. É necessário, como dizia Ricardo Salgado na entrevista que atrás referimos, que os partidos, sobretudo os do arco governamental, devem tecer acordos que façam com que o OE não seja só aprovado, mas sobretudo, aplicado. É tempo de acabar com estas diatribes de quem se está a prepara a curto prazo para eleições, porque isso não é benéfico para o país, e basta ver o comportamento dos mercados nos últimos dias. O país precisa de estabilidade política para levar a cabo as medidas que todos já conhecemos. Resta falar sobre o FMI. Ricardo Salgado é contra porque, segundo ele, isso é um desprestígio para Portugal e para os portugueses - e nisso estámos de acordo -, mas pensamos que é tempo de desmistificar tudo isto. Se o FMI vier não será o fim do mundo, já cá esteve por duas vezes, mas contudo, não criticamos Ricardo Salgado, embora não façamos disso uma bandeira. A acrescer a tudo isto, Luis Amado, o ministro dos negócios estrangeiros, em entrevista no passado fim-de-semana ao Expresso, defendeu a criação dum governo de coligação. Pensamos que seria o melhor, para dar a indicação aos mercados que, caso o governo mude, a política de recuperação continua. Contudo, tal parece muito difícil, visto os partidos - sobretudo, os do arco governamental -, estarem mais preocupados com os seus dividendos políticos do que com o país. Esse é o drama da nossa democracia e dos partidos que temos. Quando José Sócratres iniciou a constituição do segundo governo, tentou fazê-lo sem sucesso, - nem sabemos se o desejava de facto -, mas agora, pensamos que existem razões de sobejo, para que se pense mais no interesse do país e dos portugueses em detrimento dos interesses políticos. Contudo, após as presidenciais, talvez se veja um envolvimeto maior do PR - seja ele qual for - na busca de consensos em torno deste tema. Para além disso, seria bom que Sócrates pensasse numa remodelação do governo, visto existirem ministérios que nunca funcionaram. Este governo é bastante mais fraco do que o anterior, todos concordámos com isto. Vamos aguardando pelo evoluir de tudo isto e ter-mos uma evidência maior sobre o caminho que as coisas vão tomando.
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