Equivocos da democracia portuguesa - 55
E eis-nos chegados àquilo que ninguém queria acreditar, isto é, à ruptura das negociações entre o Governo e o PSD sobre o OE para 2011. Temos a certeza de que aquilo que se passou foi meramente político, porque do ponto de vista técnico não ser de acreditar que as divergências se centrem em pouco mais de 450 milhões de euros, ou seja, 0,3% do PIB!!! Como dizia Camilo Castelo Branco, "o tempo chega sempre, embora nem sempre chegue a tempo". Passos Coelho deu provas claras da sua impreparação para o elevado cargo que desempenha. Quando todos, desde o PR até aos banqueiros, passando pelas várias associações de classe, fizeram no sentido de ser aprovado o OE, Passos Coelho fez orelhas moucas, mais preocupado com o seu tempo de antena mediática para tentar afirmar-se junto dos portugueses, já que não o tem conseguido junto dos seus pares, visto que alguns deles, não querem aceitar o que se passou. Com o prolongamento do "tabú" - visto que ainda não tiveram coragem de afirmar o que pretendem fazer - os mercados reagiram de imediato, tendo os juros da dívida subido de seguida atingindo o valor mais elevado em mês e meio. A bolsa encerrou em contraciclo com as restantes praças, como reflexo desta "trapalhada" - mais uma - em que o PSD se enredou. Mas o PSD fica de novo entalado pelas palavras do seu chefe de negocição, o Prof. Eduardo Catroga, que afirmou que "todos os OE deveriam passar na especialidade, deixando as negociações para a especialidade". A comissão política do PSD emitiu um comunicado, à minutos, lido por Miguel Relvas em que deixou em aberto as negociações até à véspera da apresentação do OE na AR. Mas continuou sem dizer qual será o sentido desse voto. É fácil afirmar que é necessário cortar na despesa, mas quem o faz, deve apresentar um plano mas, ao que se sabe, parece que tal não aconteceu. Quem vai para uma negociação e não leva plano alternativo, não apenas em palavras, mas sustentado em números, então não vai lá fazer nada. O país não compreende isto, os portugueses não compreendem o que está a acontecer. Mas o drama de Portugal é ainda mais relevante, porque olhando para o espectro político, as diferenças entre o PS e o PSD não são quase nenhumas - mais na forma que na substância - leva a que com o PS ou o PSD no governo as coisas não irão mudar significativamente. Como já em tempos afirmamos, este é o drama em que Portugal tem vivido desde os tempos finais da Monarquia. Os nossos partidos estão caducos, não temos estadistas como já os tivemos nos anos 70/80, o que indicia que a Democracia está muito doente e não é previsível que a curto prazo venha a registar melhoras. Isto que estamos a assitir para além de mau para o país, é uma vergonha. Se o OE não for aprovado, Portugal terá que recorrer ao Fundo Europeu de Emergência, que será a maneira cabotina de o FMI entrar em Portugal, - não esqueçamos que a Sra. Merkel exigiu que o FMI participasse neste fundo -, com o agravar da situação que tenderá a ser mais pesada do que se o OE fosse aprovado, para além da inevitável crise política. Temos ouvido dizer que "mais vale um OE mau do que nenhum OE", isto é, a sua inexistência será muito grave para todos nós. Não no esqueçamos que o valor do déficit resulta de uma imposição da UE, que terá que ser atingido seja lá qual for o governo. Cavaco Silva convocou de emergência o Conselho de Estado para a próxima sexta-feira. Mas temos que registar a reacção tardia do PR, coisa que já nos habituou em anteriores situações. Tudo isto é uma vergonha e uma insensatez. À uns tempos atrás, Sócrates não tinha com quem dançar o tango, agora parece que é Passos Coelhos que já não tem par, correndo o risco de ficar na corda bamba. Aguardemos o evoluir de mais esta novela, que mostra bem os políticos que temos, quando os verdadeiros estadistas já se foram embora.
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