A crise financeira e a recessão - XXXVIII
Ainda às voltas com o OE, vamos assistindo a um debate que devia ser esclarecedor e mais profícuo, em vez disso, assistimos a um esgrimir de posições pouco construtivas e dignificadoras da AR, da política e dos políticos. No centro de tudo isto, está a posição do PSD e do seu líder, Passos Coelho,- de quem temos até uma boa opinião -, não esconde uma impreparação para o cargo que neste momento exerce. Quando Passos Coelho continua a dizer que há outros partidos para além do PSD, esquece que ele representa o maior partido da oposição, e que o sinal que o PSD der terá uma leitura no exterior bem diferente daquela que terá, se o OE for aprovado pela restante oposição. Esta ideia tão simples e linear, parece que escapa a Passos Coelho, o que dá claros sinais de alguma impreparação, (imaturidade?), para as elevadas funções que actualmente desempenha, e até dum potencial futuro candidato a primeiro-ministro (se os seus pares o deixarem lá chegar). Para além disso, não se pode esquecer que o PSD viabilizou as mais gravosas alterações da política económica do governo, inclusivé os PEC's I e II! Só isto, dá bem a ideia da confusão que reina nas hostes laranja, e a irresponsabilidade de algumas das afirmações que o PSD vem produzindo. Acresce ainda que, se diz que o orçamento será mau, e logo a seguir que não se tem opinião porque não se conhece o orçamento!!! Passos Coelho caiu na armadilha que ele próprio criou, se votar contra fica com um ónus que poderá ser fatal à sua carreira política, se votar a favor, dir-se-á que cedeu às pressões do ex-primeiro-ministros e ex-líderes do seu partido e até, porque não, dos banqueiros que o foram "aconselhar" na semana que findou. Por outro lado, o governo está a seguir uma senda de grande rigor, embora este rigor nem sempre e, infelizmente, se aplica ao próprio governo. Contudo, à que ter cuidado com as medidas extremas, porque é nestas alturas em que a descrença na política e nos políticos faz aparecer uma certa nostalgia pelos líderes fortes doutros tempos. Foi assim com Salazar, após a terrível ineficácia das políticas seguidas pela República que, como já referimos em anterior comentário, eram basicamente as mesmas que hoje nos afligem. Foi assim com Mussolini em Itália, foi assim com Hitler na Alemanha. Depois aparecem as mistificações do líder com o sobrenatural como aconteceu com o Nazismo. Senão vejamos, "Hitler presente de Deus à Alemanha, foi o homem providencial, o culto por ele está acima das divisões confessionais" quem o afirmou foi Baldur von Schirach líder das Juventudes do Reich. "Quando Hitler fala é como se a abóbada de um templo se fechasse sobre a cabeça do povo alemão" célebre frase do seu ministro da propaganda, Goebbels. O culto por um homem a unir o que o culto de Deus dividiu. Esse é o perigo que todos temos sobre as nossas cabeças, que medidas de grande pressão despoletam terreno fértil onde elas acabam por germinar. E não pensemos que é pelo facto de estarmos na UE que as coisas são diferentes. Mas para além deste perigo sempre próximo e real, não podemos deixar de escutar outras vozes que tentam clarificar a situação em que nos encontramos. Desde logo, Pacheco Pereira na "Quadratura do Círculo" dizia que este OE do PS não seria muito diferente se fosse o PSD a apresentá-lo porque, segundo ele, esta é uma determinação que vem do exterior e o governo português, seja ele qual for, tem que cumprir as directivas que chegam ao nosso país, daí as restrições não serem fruto da política do governo, mas sim, da política centralizada em Bruxelas. Nem sempre estamos de acordo com Pacheco Pereira, mas que ele tem razão, não existem dúvidas. Por aí aparecem até empresários, sobretudo de PME's, que aspiram a que o FMI entre em Portugal. Esta não é a nossa opção. O FMI segue um padrão conhecido, e uma das medidas tradicionais é a desvalorização, coisa que na zona euro não é possível. A única vantagem que vemos é que o FMI se preocupa muito com o crescimento económico, sobretudo por uma dinamização das exportações, coisa que não é visível na estratégia que o governo está a seguir, onde não é preceptível essa preocupação para o futuro. Naquilo que se conhece, para já, do OE 2011, uma das questões mais polémicas é o crescimento, embora débil, mas crescimento da economia. Não é esta a nossa opinião, achamos que, Portugal entrará em recessão, como noutro altura já referimos, em concordância com os indicadores doutras entidades nacionais e internacionais. Por mais voltas que demos às contas, não conseguimos visualizar nenhum crescimento, mesmo com a melhor das boas vontades. O mesmo se diria sobre o índice do desemprego, que será muito maior do que o estimado, talvez a rondar o nível histórico dos 11%. Caso estejamos enganados, esta será uma vitória enorme do governo e, sobretudo, do seu ministro das finanças. Mas para além destas questões mais técnicas, as populações, cada vez mais esmagadas pela carga fiscal que não pára de aumentar, não estão preocupadas com isso. O que sabem é que têm que sobreviver - mais do que viver - com restrições que abafam a sua vida quotidiana. Sobretudo a classe média, que qualquer dia vai extinguir-se, dada a pressão a que está a ser sujeita, ficando apenas os muito ricos e os muitos pobres, sem este factor de amortização que a classe média sempre inspira. Veja-se a aplicação prática desta afirmação na América Latina, com as terríveis consequências que daí advieram, e que ainda hoje, se fazem sentir. Foram os Castro, os Pinochet, os Fujimori, os Chávez. Não era isto que gostaríamos de ver no nosso país, mas parece que já estivemos mais longe do que o que estamos hoje em dia. Será preciso um maior esclarecimento às populações das medidas tomadas e daquilo que se pretende, será um maior exemplo que deve vir de cima, isto é, do próprio Estado, que deve cortar nas suas excessivas despesas. Não deixemos que a Democracia, que tanto custou a obter, resvale para um qualquer populismo, diríamos mais, despotismo, que se sabe sempre quando começa, mas nunca quando acaba.
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