Voltemos às reflexões sobre o mundo em dia de aniversário
Neste mundo materialista em que vivemos, manifesta-se cada vez mais a consciência de que não devemos nada a ninguém e de que tudo nos é devido. É esse o perfil das "novas remessas" de filhos e cidadãos: direitos, todos; deveres, poucos ou nenhuns. Essa é a educação que muitos pais, mas também, escolas estão a dar aos seus filhos e alunos, respectivamente, cidadãos que se querem responsáveis no futuro. Disse alguém que a gratidão é a memória do coração. Mas a nossa memória é, muitas vezes, caprichosa. Persiste em recordar as ofensas recebidas, mas esquece facilmente os gestos de amizade. Persiste em recordar os bons serviços que prestou, mas esquece depressa os que recebeu. Precisamos, por isso, de cultivar uma memória positiva que nos leve a apreciar o amor de quem nos rodeia e a dar-nos conta de tudo o que de bom ou útil fazem por nós. Precisamos de aprender a ser gratos. Sei que não é fácil tomar atitudes destas, mas elas são urgentes, num mundo cada vez mais corrompido pelo ódio, pela indiferença, pelo negativismo, pelo niilismo. Sei que a máxima cristã, de "dar a outra face" não é inteligível à luz dos tempos em que vivemos, mas temos que fazer um esforço para ir de encontro ao outro, ao nosso semelhante que muitas vezes está ao nosso lado sem que o vejamos. Quantas vezes falamos de pontes de entendimento, de plataformas de união e, quantas vezes, não somos capazes de lançar a ponte ao nosso semelhante que ao nosso lado tão carente está de afecto, sem que de tal nos apercebamos, ou então, fingimos não reparar. Vem-me à memória uma passagem duma canção de Mafalda Veiga, que se chama "O Velho", e que afirma que "esse velho que vemos sozinho no banco do jardim, é um espelho daquilo que seremos quando lá chegarmos". Talvez por isso o rejeitemos, para conservarmos a visão deturpada de que nunca chegaremos a ficar assim, porque nós somos diferentes, e o tempo não nos desgasta da mesma maneira que desgasta os outros. Vão pensamento, que os anos acabarão por confirmar, e nessa altura, talvez nos lembremos daqueles que ignoramos quando nos estenderam a mão e nós fizemos de conta que não víamos, agora que também carentes desse carinho outrora sonegado, ficaríamos gratos se alguém nos desse, pelo menos, alguma atenção. Estas são as diatribes do mundo em que vivemos, um mundo de imagem, um mundo onde os valores são substituídos pelos íconos de ocasião, logo substituídos por outros, num frenesim de mudança devoradora até à nossa própria implusão. À medida que vamos envelhecendo, quando o manto do tempo nos cobre cada vez mais, temos uma visão mais clara de tudo isto, por vezes nostálgica e pessimista, mas para além disso, temos que ter a consciência da mutabilidade do mundo, devemos tentar acompanhá-la, embora mais lentamente, porque os anos vão fazendo os seus estragos, mas não ficar junto à berma do caminho a contemplar a passagem do tempo. Cumprido mais um ano de vida, queria aproveitar este espaço para agradecer a todas(os) que me contactaram ou me enviaram mensagens, terão sempre um lugar guardado na minha memória e no meu coração.
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