Turma Formadores Certform 66

Monday, November 08, 2010

Luca - A saudade na hora da partida

Hoje estou triste, muito triste. Estou devastado, foi mais um pedaço de mim que se soltou. Por isso, hoje, sinto-me mais só. Morreu mais uma das minhas cadelinhas - cerca da 1,45 horas desta madrugada - que me tinham sido legadas pela minha mãe. Tinha nascido à cerca de treze anos nesta mesma casa. Para além da perda grande que isto para mim representa, foi ver o sofrimento atróz que teve que sofrer durante cerca de quatro dias, sobretudo, nas últimas horas de vida. Tal como a sua mãe, já falecida vai para quatro anos, a Luca - era assim que se chamava - acabou por ter um sofrimento idêntico. Ela era a minha companhia, para onde quer que eu fosse, ela lá ia atrás de mim, juntamente com a sua irmã Estrelita - agora a última que resta desta ninhada. Depois destes momentos de sofrimento que vivi, dei por mim a reflectir sobre a morte face à vida, sobre o sofrimento inerente à morte. E dei por mim a pensar: Morre alguém, é como passos que param. E se fosse uma partida para uma nova etapa? Morre alguém, é como uma árvora que cai. E se fosse uma semente a germinar numa terra nova? Morre alguém, é como uma porta que se fecha. E se fosse uma passagem abrindo-se para outras paisagens? De facto, a morte continua a ser o grande enigma da condição humana, diria mais, da condição de qualquer ser vivo. Será a morte o ponto final absoluto ou apenas o fim de um estado de vida que, como semente ao morrer, se abre para um futuro insuspeitado? Da resposta a esta pergunta depende muito a nossa postura perante a vida, ou seja: o enfoque e o sentido que lhe damos. E quem nos dá a resposta? Como diz E. Chillida: "Da morte, a razão diz-nos que é definitiva. Da razão, a razão diz-nos que é limitada". Se ficamos, pois, pela voz da razão, estamos perante uma vida sem futuro ou um futuro sem vida. Mas a consciência dos limites da razão face a este mistério pode abrir-nos para outra luz e outras respostas. A luz e as respostas que nascem da Fé. É ela que nos garante que Deus é um Deus de vivos e não de mortos, que o seu amor é fiel e imutável e que, na morte nos acolhe como filhos para um abraço de comunhão e de vida para sempre. Por isso proclamamos: "Creio na vida eterna". Mas não pensem que esta lauda tem por destinatários apenas os seres humanos. Como S. Francisco de Assis dizia, Deus está em tudo o que nos rodeia, daí ele se referir ao "irmão lobo", "irmão vento", "irmã luz", "irmã árvore". Como Francisco de Assis, quero crer que este ser que sempre foi meigo, gentil e fiel ao seu dono, depois duma agonia enorme, estará seguramente num lugar melhor. Se um ser como este não o atinge, com a sua pureza, a sua mansidão, então, nenhum ser humano será digno dela. Afinal a semente lançada à terra desaparece para dar lugar a uma linda planta. A minha Fé a isso conduz, e espero, diria mais, estou certo, que um dia nos reencontraremos algures no Universo. Lá onde estiveres, que estejas em paz. Por cá, ficam as saudades e a dor imensa da separação. RIP.

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