De novo uma reflexão sobre o mundo em que vivemos
Morrem os homens e as culturas, passam as modas e os impérios. Tudo passa. Só a Fé permanece. A História e o mundo progridem e avançam em direcção a um final, mas por um caminho irregular, cheio de sobressaltos e frustrações. Na verdade, a cada perspectiva dum tempo novo ou de uma nova ordem irrompe mais uma vez o cortejo das divisões das guerras, das fomes, dos sofrimentos e catástrofes de toda a espécie. É então que nos interrogamos, para onde caminha tudo isto? Faz sentido lutar contra a maré? Vale a pena respeitar a verdade e praticar a justiça num mundo onde todos os meios se justificam, desde que nos agradem ou sejam lucrativos? Mas cremos que para além de todas as trevas brilhará o sol da justiça, pois na raiz da existência não reinam a solidão a crueldade e o caos mas o mistério do Ser Superior que se revelou e se oferece como destino final e venturoso da Humanidade. Diz-nos também hoje a mesma palavra, que a Fé e a esperança neste destino não podem ser pretexto para braços cruzados, mas razão e estímulo para nos empenharmos a fundo no testemunho e na promoção de valores, sejam quais forem as circunstâncias. Este é um mundo de conflitualidade em que vivemos, onde muitas vezes a esperança já é difícil de suster. A parábola diz-nos que "quando rezas, Deus não se fixa nas tuas palavras mas no teu coração". Daí os efeitos tão diversos da oração do fariseu e da oração do publicano. De facto, a auto-satisfação impede toda a mudança ou progresso espiritual. O que é então esse "farisaísmo" que, esse grande líder chamado Jesus, tanto censurou e combateu? É a "doença" que nos impede de ver, com objectividade, o que somos e valemos e o que os outros são e valem, respectivamente, falseando assim a nossa relação com eles e com Deus. A dedicatória da parábola não deixa dúvidas: é para os que se consideram justos e desprezam os outros. Não se trata, como é evidente, de desvalorizar o cumprimento das leis e as virtudes de quem as pratica, nem de enaltecer os que as desprezam e branquear os seus desvios ou pecados. Trata-se de proclamar, mais uma vez, que o amor de Deus é incondicional e inegociável: não se compra nem se assegura certos ritos e práticas, nem se perde, necessariamente, com certas faltas ou fracassos, e que, por isso mesmo, o homem de Fé não é aquele que põe a sua confiança na "bondade" da sua vida nem nos "direitos" conquistados pelas suas virtudes, mas aquele que, acima de tudo e apesar de tudo, põe a sua confiança no amor de Deus e trata de lhe corresponder em cada situação da vida, numa atitude humilde e perseverante de conversão e fidelidade. E nós, como saímos de tudo isto? Não pensem que vos estou a tentar converter a uma qualquer religião, até porque, basicamente, todas defendem o mesmo, o bem do ser humano e o equilíbrio num mundo cada vez mais desalinhado. Aqueles que tentam falar em nome de um Deus, seja Ele qual for, é que afastaram os homens dele e dividiram os homens entre si, com rótulos, estigmas, ou sei lá mais o quê, que justificou todo o tipo de atrocidades que a História nos revela. Ninguém é culpado e todos somos culpados, porque não somos, ou não fomos, capazes de cortar com esses extremismos, venham eles de onde vierem. É com base em tudo isto que, como dizia o poeta, "me sento à beira do caminho a ouvir os ruídos do mundo e a interpretá-los à minha maneira".
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