Turma Formadores Certform 66

Sunday, February 13, 2011

Equivocos da democracia portuguesa - 71


E finalmente a crise anunciada. Na quinta-feira passada, o Bloco de Esquerda resolveu ultrapassar o PCP e anunciou a apresentação duma moção de censura ao Governo que será discutida a 10 de Março, um dia depois do Presidente da República ter tomado posse. Esta atitude não nos surpreendeu, visto ser o culminar duma crise anunciada desde o início do ano. Parece que Jerónimo de Sousa e os restantes deputados do PCP ficaram surpresos com este anúncio, talvez porque veio retirar protagonismo ao seu próprio partido, que foi aquele que desde alguns dias vem falando nessa possibilidade que veio a ser discutida no passado fim-de-semana. Mas o mais surpreendente foi a atitude de Francisco Louçã. Homem detentor duma inteligência muito acima da média, não deixa de ser curioso que se venha a enredar nesta teia de contradições, visto à meia dúzia de dias atrás ter afirmado que uma moção de censura nesta altura era inconsequente e que não estaria ali para facilitar o trabalho à direita. Sabemos que após o apoio a Manuel Alegre o BE sentiu a necessidade de se afastar duma eleição que não lhe foi favorável, mas pensamos que tem que haver uma atitude responsável face à situação do país, e não foi isso que vimos na atitude do BE. Embora na sexta-feira última tenham vindo esclarecer a sua atitude, não fizeram mais do que ampliar o imbróglio em que se meteram. (Ninguém anuncia uma moção de censura com um mês de dilação, até porque o país terá sérias dificuldades em conviver com esta situação por tanto tempo. Daí a clarificação que o PS pediu quanto ao sentido de voto dos restantes partidos). José Sócrates acusou de irresponsável o BE e não deixa de ter a sua razão. Na actual situação do país, estar a viver em permanente instabilidade não augura nada de bom. Esta moção de censura anunciada tem, contudo, uma virtualidade, a de esclarecer se os partidos estão ou não do lado da instabilidade política. Se o PCP ficou um pouco baralhado, o mesmo não deixou de acontecer a PSD e CDS/PP. Alguns históricos do PSD como Marques Mendes e Pacheco Pereira já vieram a terreiro alertar para o perigo da instabilidade, embora o que de facto está em causa é que o PSD não quer assumir funções no actual estado das coisas, deixando ao actual governo, o inevitável desgaste. Curiosamente, esta atitude encerra em si um risco, que é o de saber se o governo actual tem ou não capacidade para inverter a situação, e se tal vier a acontecer, isso pode ser um problema para o próprio PSD. Estamos convencidos que a moção de censura não será aprovada, mas isto diz bem da irresponsabilidade política que os partidos dão mostra e para a qual vimos alertando. Para além das estratégias partidárias, existe um país, constituído por todos nós, que parece que ninguém se importa. Assim, as coisas não vão bem. Numa altura em que é necessário serrar fileiras, actos como este do BE, não trazem nada de favorável para Portugal. Daí as nossas preocupações que vimos veiculando em artigos anteriores. Veremos o sinal que o PR vai dar em tudo isto. Aqui está o momento para clarificar a sua posição, sobretudo numa altura em que as relações entre o PM e o PR estão a passar um mau momento.

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