Equivocos da democracia portuguesa - 121
A semana passada, - como comentamos neste espaço -, a Moody's atirou Portugal para o nível de "lixo". A mesma Moody's que dois dias antes da falência do Lehman Brothers, dava a este banco uma classificação de "triple A"!!! Ainda hoje, algumas agências de "rating" classificam a dívida americana de AAA+ (!), embora esta seja monstruosa - nada comparável à portuguesa - e os EUA corram o risco de não cumprir os seus compromissos com os seus credores, (vidé os alertas da directora-geral do FMI, Christine Lagarde, proferidas ontem em tom bem preocupado). Por cá, é de notar a já habitual arrogância de Cavaco Silva, que hoje critica fortemente estas agências de notação, as mesmas que achava que não deviam ser molestadas quando o governo era de Sócrates e não o do PSD. Mas, como dissemos em comentários anteriores, do PR já esperamos tudo, e já nada nos surpreende, afinal ele é o homem "que nunca se engana e raramente tem dúvidas". E quando o sábio professor, do alto da sua cátedra, vem dar lições de economia, eis que aparece quem diga que "as afirmações produzidas são só opiniões não baseadas em factos concretos", quem o afirma é Vítor Bento, que esteve para ser ministro das finanças e recusou, talvez por ver a fragilidade de tudo isto e não querer ser conivente com tudo aquilo que vem por aí. Mas Cavaco chegou a um ponto de despudor quando, na semana anterior, foi insinuando que a saúde devia ser entregue a privados quando o Estado não pudesse arcar com os compromissos, esquecendo-se de que o acerto nas contas públicas é feito na área fiscal. Por palavras mais simples, o que Cavaco diz é que, quem quer saúde tem que a pagar. Para além de ser inconstituicional, atingirá os mais pobres tal qual o que acontece com o aumento do IVA. Esta é uma das questões transversais à agenda ultraliberal do governo apadrinhada pelo PR. O PR que devia ser de todos os portugueses e não um PR de facção como amiúde vai deixando transparecer. Até na atitude para com o governo. Todos nos lembramos da maneira distante, institucional, com que se relacionava com Sócrates, algo bem diferente daquilo que vemos com o governo de Passos Coelho, e em que ao receber Portas na semana passada, deixa um sinal a traço grosso. Dirão alguns que esta é a magistratura activa que o PR prometeu para este novo mandato. Mas não nos esqueçamos que, no passado recente, a magistratura activa foi para criar dificuldades ao governo anterior com os seus famosos e infelizes discursos, criando assim condições para colocar no poder o seu partido. Assim se demonstra à evidência que este PR em vez de o ser de todos os portugueses, como seria normal, é um PR de facção, onde nem todos nos revemos. Assim, quando vemos a Moody's atirar Portugal para o lixo pensamos, ironicamente, que para o lixo deve ir esta classe política de quem nada temos a esperar. Devemos é criar condições, o mais rapidamente possível, para uma refundação da democracia, não aquela propalada por Passos Coelho e que deriva da sua agenda ultraliberal, mas uma refundação até dos prórios partidos, com vista à criação da 3ª República.
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