Equivocos da democracia portuguesa - 165
Eis um recado histórico. Quando a Europa gemia debaixo do jugo centralista napoleónico, THEODOR KÖRNER escreveu o seguinte recado: "Noch sitzt Ihr da oben Ihr feigen Gestalten, Vom Feinde bezahlt, und dem Volke zum Spott! Doch einst wird wieder Gerechtigkeit walten, dann richtet das Volk, dann gnade Euch Gott !" Traduzindo: “Ainda estais sentados aí em cima, cobardes, pagos pelo inimigo, e para escárnio do povo! Mas, um dia, a Justiça voltará a reinar. E o povo voltará a ordenar. Então, que Deus tenha piedade de vós!” Esta frase tem uma enorme actualidade nos dias que correm. Portugal tem sido jogado, nos areópagos intenacionais, como uma bola de ping-pong. Os investidores que estão mais interessados em destruir a UE e, sobretudo, em esmagar o euro, têm aproveitado o ensejo que os próprios decisores europeus lhes têm dado para seguir na sua senda demolidora. A Grécia está no estado em que está, Portugal e a Irlanda vêm a seguir, e agora, as economias mais fortes como a espanhola e a italiana, não escapam a esta sanha demolidora. Contudo, e apesar de considerarmos que o governo ultra-liberal que temos, em nada irá ajudar as populações, porque não tem sensibilidade social - veja-se o que Cavaco tem disto sobre esta matéria -, mas tem tido o mérito de abrir soluções altenativas que tem surpreendido muitos no exterior. Os negócios que se têm feito com o Oriente por via das privatizações, como foi o caso da EDP com os chineses e, mais recentemente, com a REN, de novo com os chineses (State Grid Internacional Development - a maior empresa pública do mundo) em parceria com os omanitas (Oman Oil Company), veio mostrar que Portugal tem conseguido encontrar apoios em zonas do mundo que poucos consideravam possível. (Embora somos dos que consideramos que as redes nacionais deveriam estar na mão pública e não alienadas, e logo a estrangeiros). É certo que esses países têm outras intenções, (como é normal nos negócios), nomeadamente a China, que por esta via, acede aos mercados europeus tão desejados, bem como a África e à América. Mas isto tem um outro significado. Desde logo, que esses países, com a China à cabeça, acreditam que Portugal é um país viável, e que a economia portuguesa vai recuperar, bem como, acreditam que o euro não se irá extinguir, caso contrário, não estariam a fazer negócios nesta moeda. Aqui é bom lembrar que a China possui mais de 20 mil milhões de obrigações europeias - as famosas eurobonds -, e, se não acreditassem no euro, com certeza que não estariam a investir tanto nesta moeda. Para nós, o negócio pode ser muito interessante, por duas ordens de razões. A primeira, porque estes negócios trazem atrás de si a banca chinesa, que por sua vez, pode ser um motor de forte desenvolvimento económico, a segunda, porque - como já em tempos aqui afirmamos -, os chineses não se esquecem de quem os ajuda. Foi sempre assim ao longo da História e achamos que agora não será diferente. Estamos certos que Portugal terá muito a esperar da evolução futura destes acordos comerciais. O único senão, prende-se com o nosso próprio governo. Não é visível até agora, qualquer estratégia que conduza ao crescimento económico. E sem crescimento, não existe investimento, logo, não existe emprego. E é bom não esquecer que o nível histórico de desemprego que este governo conseguiu é muito preocupante e requer medidas urgentes. (Não esquecer que em seis meses o governo criou 30.000 novos desempregados!) Uma última questão que nos preocupa é o prazo da dívida. É hoje consensual que Portugal não conseguirá cumprir os prazos indicados no acordo da "troika". Daí o ser necessária uma rápida reestruturação da dívida. Vejam-se sobre esta questão as afirmações de Manuela Ferreira Leite e Vieira da Silva produzidas na semana passada - pessoas bem diferentes no aspecto ideológico - mas que convergem quanto a este tema. Compreendemos que o governo não torne pública esta necessidade, até para não alimentar preocupações nas populações, e dar mais uns argumentos aos especuladores internacionais. Mas estamos certos que este assunto já foi abordado diversas vezes, caso contrário, daria mostras de irrealismo e até de irresponsabilidade. Mas estamos convictos que, mais cedo ou mais tarde, os especuladores verão que Portugal ainda tem uma palavra a dizer. Mas para isso, será necessário engajar as populações neste processo, coisa que o governo ainda não conseguiu fazer e, com todo este aperto que vai muito para além do memorando da "troika", pensamos que será difícil a mobilização. Até agora, as populações apenas viram a sua situação agravada dia após dia sem que para isso lhe tenha sido dada qualquer justificação. E a que foi dada, foi-o de maneira desajeitada, e como tal, inconsequente. E assim, as coisas não vão lá! (A situação que aconteceu na passada semana na Antena 1, - com a suspensão dum programa após críticas a um outro feito pela RTP em Angola -, também não ajuda. Se não ouve interferência do governo na decisão, porquê o fugirem à questão, o que em muito adensa o problema... O espectro de censura fica sempre no ar.) Aqui está um exemplo daquilo que um governo não deve fazer, isto é, não dar qualquer esclarecimento cabal às populações. Afinal somos todos nós que suportamos esses custos na factura da... electricidade!!! A mesma indefinição com o ziguezaguear no caso do acordo ortográfico. Embora ele tenha entrado em vigor este ano, parece que no CCB de Vasco Graça Moura tal não aconteceu. O governo em vez de fazer cumprir a lei, diz que sim, só se aplica para o ano... talvez só para o CCB!!! Mas agora, parece que se chegou a um consenso alargado para resolver a crise. Depois do pastel de nata, temos o fim da tolerância de ponto no Carnaval, o que muito irá enriquecer os cofres da nação. Estamos seguros que com esta ajuda, Portugal já resolveu um bom pedaço dos seus problemas. Mas como é Carnaval, ninguém leva a mal! Não levarão mesmo a mal?
0 Comments:
Post a Comment
<< Home