Conversas comigo mesmo - LX
A Inês do meu contentamento já fez três meses. Está linda como nunca, os dentitos começam a dar sinais de quererem aparecer. A Inês está linda, muito forte e determinada como não podia deixar de ser. A mais bela flor do meu jardim de Outono está a florescer com muita luz em pleno Inverno. Nem as baixas temperaturas que se têm feito sentir a abatem. Inês flor, Inês amor, Inês do meu contentamento estou muito feliz por ti, cada vitória tua é uma vitória minha também. Continua a tua jornada com a mesma determinação que até agora tens demonstrado. Eu estarei sempre, sempre ao teu lado. Infelizmente, nem tudo são rosas - afinal, estas também têm espinhos! -, e a Inês, para além das dores inerentes à dentição emergente, está constipada. Embora adoentada, não será esta sua primeira constipação que a fará desistir. Apenas se está a habituar às agruras do tempo no mundo onde chegou. Para mim, a situação também não deixa de ser desagradável. Estou também com uma forte constipação que, apesar da muita medicação já tomada, teima em não me abandonar, o que faz que, desde à algum tempo apenas veja a Inês do meu contentamento, à distância, para evitar que fique pior. Apesar de não a ter nos meus braços à já algum tempo, apesar de não sentir as primeiras risadas que dá no meu colo, fico feliz só com essa visão distante e efémera que a falta de saúde me impõe. Mas, embora seja uma pobre substituição, a visão quase idílica dessa criança, vai tentando compensar aquele afecto que tenho por ela e que exige a pertença, o sentir, o ter junto de mim, aquela que é a mais bela flor do meu jardim de Outono. Mas não pensem que, apesar de alguns problemas de saúde, a Inês não deixa de nos brindar com o seu sorriso. A mais bela flor do meu jardim de Outono sabe que vencerá, será tudo uma questão de tempo, afinal não é impunemente que se usa um nome de rainha. Ela sabe que pode contar sempre com o meu amor, esse amor imenso que, passados mais de três meses, começou a crescer dentro de mim. Ela sabe que me terá, - enquanto o puder fazer -, a seu lado. Ela há-de começar a aprender que não se mede o valor de um homem pelas suas roupas ou pelos bens que possui. Ela há-de começar a aprender que o verdadeiro valor dum homem é o seu carácter, as suas ideias e a nobreza dos seus ideais. E quanto a isso, espero nunca vir a desiludir a minha bela Inês, a Inês do meu contentamento. O tempo vai fazendo o seu percurso, aproxima-se a altura em que o que tem estado oculto será revelado. A fonte de tanto amor e carinho tem, seguramente, uma razão de ser. Até lá, só resta aguardar. Afinal, já não falta tanto tempo assim...
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