Equivocos da democracia portuguesa - 163
Josef Stiglitz, prémio Nobel da economia em 2001 diz que "a diminuição dos salários não irá contribuir para a saída da crise, pelo simples facto de que, conduz ao abaixamento da procura, logo, do consumo". E foi mais longe, quando afirmou que "a saída dum país do euro não será tão grave assim, o problema está na maneira como a Europa no seu tudo é capaz de criar mecanismos para o proteger". Quando abordado sobre o que pensa sobre a possibilidade de Portugal sair do euro, ele acha que isso não vai acontecer, mas volta a afirmar que "os países maiores e mais ricos é que têm que definir o caminho para a zona euro, e deles depende a manutenção ou não, da moeda única". Sobre o risco de default o prémio Nobel diz que há mais vida para além do déficit e que um país estar em dificuldades não significa que no futuro não possa retomar o seu caminho. E como exemplo deu o caso da Rússia que esteve em default em 1998 e o da Argentina que passou pelo mesmo em 2001, vindo depois, muito rapidamente a regressar aos mercados e a estabilizar as respectivas situações financeiras. Parece que dada a incapacidade da Europa se afirmar no combate a este despudorado ataque do dólar e das agências de notação financeira ao euro, o discurso vai-se alterando, aqui e ali, até se pode considerar que amenisando. Contudo, a situação não dá indícios de melhorar, apesar do discurso dos políticos que, em boa verdade, não sabem o que fazer. Agora, que a situação se vai degradando paulatinamente, os responsáveis europeus, como que por magia, falam muito em crescimento e emprego. Vejam-se as declarações de Merkel e Durão Barroso, coisa que até à bem pouco tempo não constava do seu léxico político. E a "troika" - hélas! - também! A Grécia está com a bancarrota por trás da porta, toda a gente o sabe, mas é importante que o acordo entre este país e o FMI se faça. Será apenas um adiar da situação, mas estamos convictos que, empurrando a decisão final para mais tarde, leva a que outros países em dificuldades como Portugal, se vão preparando para o embate que daí virá. Por isso, achamos que este acordo que está a ser negociado e sucessivamente interrompido deveria ser assinado rapidamente. Entretanto, Christine Lagarde, a directora-geral do FMI, continua a alertar para uma possível "profunda recessão" da economia mundial, não escondendo as divergências com Merkel. Enfim, está no tempo de voltar a ler o livro "Os Cavalos Também Se Abatem" de Horace McCoy ou, em alternativa, o filme homónimo de Sydney Pollack. Parece que voltamos duma maneira decidida aos anos da grande depressão, os anos 30 do século passado. Por cá, as coisas não andam melhor. Agora as lamúrias não vêm dos portugueses com reformas miseráveis de 260 euros (!), mas do Presidente da República. Cavaco acha que a reforma de dez mil euros que tem não lhe chega para as despesas!!! Abdicou do ordenado de Presidente da República porque o valor que tinha do BdP era-lhe mais favorável. Mas mesmo assim, não chega... Isto é uma tremenda falta de vergonha e destemperança face ao país e aos portugueses na situação porque estamos a passar. Em entrevista à TVI24, Constança Sá e Cunha diz que "Cavaco não sabe o país em que vive". E tem razão. Esta jornalista, que não pode ser conotada com a esquerda, não pode ficar indiferente a tamanho desaforo. Como é normal em Cavaco, este vai evitar o assunto até que ele esqueça. Nem sequer sem a umbridade dum esclarecimento, dum pedido de desculpa a tantos portugueses que vivem no limiar de pobreza. Mas a culpa é tão só nossa, que o colocamos lá por duas vezes, envolto num circo mediático sem precedentes. Domingo passado Marcelo Rebelo de Sousa lá teve que admitir que o segundo mandato de Cavaco tem sido muito activo, e nessa actividade ele inclui, "o derrube do governo de Sócrates". Todos o sabíamos, mas ninguém o queria admitir. Só que o derrube do governo, em vez de resolver a situação, atirou-nos para esta indigência em que vivemos e que levará muito anos para sairmos dela. Agora, até ele já se queixa!!! Como dizia Mao-Tsé Tung, "ser rico é ser glorioso". Coisa que pelos vistos Cavaco acha que pode deixar de ser. Mas quando ouvimos falar disto, desta destemperança que abala a política e os políticos portugueses, cada vez mais desacreditados, - como aconteceu à dias em Guimarães, quando o Primeiro Ministro vem tecer laudas à cultura, quando ele a subaltenizou, destruindo-lhe o ministério e dando-lhe uma mera secretaria de estado -, vêm-nos à memória uma citação de Miguel Torga. Dizia ele: "É um fenómeno curioso: o país ergue-se indignado, moureja o dia inteiro indignado, come, bebe e diverte-se indignado, mas não passa disto. Falta-lhe o romantismo cívico da agressão. Somos, socialmente, uma colectividade pacífica de revoltados". Até um dia, dizemos nós, e a História dá-nos razão neste capítulo. O que não podemos é deixar que o descontentamento legítimo das populações leve a um crescendo de apoio a movimentos de ultra-direita, que começam a fazer a sua despudorada aparição. Somos a favor da 3ª República, como já aqui o defendemos por diversas vezes, mas não defendemos o regresso a um regime autocrático. Isso até daria razão aos muitos políticos que enxameiam a nossa Assembleia da República, que acham que depois deles será o dilúvio. À incompetência patente, nem o dilúvio seria solução...
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