Turma Formadores Certform 66

Sunday, January 15, 2012

Equivocos da democracia portuguesa - 161

"Enquanto a operação choque e pavor se desenrola por aqui (e em Espanha e Itália e Grécia, etc.), a Alemanha vive dias paradisíacos nos mercados. Na segunda-feira, pela primeira vez desde que há memória, os investidores pagaram para comprar dívida pública alemã. É estranho, não é? As pessoas que emprestam dinheiro pagam para emprestar? É esquisito, mas aconteceu: esta foi a semana em que a Alemanha passou a ganhar dinheiro quando pede emprestado. Os investidores querem tanto ficar com títulos de dívida alemães que aceitam juros negativos para que a Alemanha os deixe emprestar-lhe dinheiro. Isto é economicamente estranho? É, aliás nunca tinha acontecido. Mas é o resultado económico, fantástico para a Alemanha, da descrença total no futuro do euro e da Europa tal como ela foi organizada. A crise do euro, afinal, tem vencedores: a Alemanha ganha com a sua dívida pública, está a aguentar uma taxa de emprego razoável, importa cérebros fugidos de países miseráveis e, por enquanto, ainda não está a levar com a recessão. A desvalorização do euro vai facilitar a sua missão exportadora para outros mercados, mesmo quando os europeus deixarem de comprar coisas que se vejam. Com toda esta conversa supostamente moral sobre dívida pública que intoxica o debate político, aqui e no resto da Europa, é natural que o leitor comum ache que a Alemanha tem “as suas contas em ordem” e já pagou, ou está quase a pagar, tudo o que deve. Mentira. Como disse Sócrates, também a Alemanha acha, evidentemente, que a dívida “é para se ir pagando”, e está longe de ter uma dívida pública baixinha, como a da Estónia, que é de 6,6% do PIB. Não: a dívida pública alemã é de 83,2% do PIB e é parecida com a francesa (81,7% do PIB). Mas tanto a dívida pública alemã como a dívida pública francesa são maiores do que a espanhola (60,1% do PIB). Sim, nós temos uma dívida terrível – 93% do PIB. Mas está apenas dez pontos acima dos alemães. A Bélgica está nos 96% e os casos mais complicados são a Itália – 119% – e a Grécia, a chegar aos 142,8%. A Letónia, por exemplo, um país que pagou as suas dívidas honrosamente (está nos 44% do PIB), tem agora uma taxa de desemprego de 18%. Com a confiança na zona euro a bater no fundo, os investidores refugiam-se no colo de Berlim, que é a economia mais forte da zona euro. Aceitam perder dinheiro – negoceiam a juros negativos – para deterem dívida pública alemã. Como é que os outros países da zona, enfiados em programas de austeridade sem crescimento à vista, podem dar confiança aos investidores? A resposta, infelizmente, é conhecida. Se puder, emigre para Berlim". (Ana Sá Lopes - Jornal i). Esta crónica de Ana Sá Lopes publicada na semana passada no jornal i está plena de actualidade. Esta semana que findou foi rica em acontecimentos, nem sempre pelas melhores razões. Foi a semana do "apagão" e início da televisão digital e no calor da polémica veio-se a saber que afinal o CDS não quer privatizar a RTP!!! Depois foi a polémica que tem envolvido as entidades patronais e os sindicatos em torno da meia hora adicional. Nenhuma das entidades parece estar de acordo, tendo até o líder dos patrões dito que a "medida foi apressada". No meio de tal confusão o governo já admite que afinal pode substituir essa meia hora extra por outra coisa qualquer!!! Depois foi Vítor Gaspar que veio afirmar na AR que não haverá mais austeridade para este ano, contrariando assim a nota interna que tinha emitido para o último conselho de ministros onde afirmava precisamente o contrário!!! Veremos o que daí sairá. Ou a nota era um mero elemento de trabalho ou o ministro andou a enganar o país. Depois foram as afirmações polémicas e sem sentido - como já nos habituou ao longo dos anos - de Manuela Ferreira Leite que acha que os idosos com mais de 70 anos devem pagar a hemodiálise, caso dela necessitem, ou então... que morram, dizemos nós. Nem todos têm os meios da sra. doutora e queríamos ver se ela defendia o mesmo caso estivesse na situação de muitos portugueses!!! Depois assistimos aos arranjos habituais dos "jobs for the boys" que o então candidato a PM - Passos Coelho - achava que nunca faria e que criticava veementemente. Mas agora é o PM de Portugal e lá teve que dar uma "mãozinha" aos amigos. Basta ver o que aconteceu com as Águas de Portugal e com a EDP. Quanto à primeira viu ser nomeado para a sua liderança um sr. que tem uma "divída colossal" à instituição, oriunda da câmara onde até hoje era presidente!!! Como irá resolver o problema? Como irá gerir a conflitualidade de interesses aqui mais que evidente? A EDP serviu para guarda-chuva de alguns amigos. Desde logo, Eduardo Catroga, que até esteve para ser ministro, e que lá lhe arranjaram um "tachito" para aumentar a reforma. O valor do seu salário é tal que já levou a que figuras de dentro do PSD se sentissem mal. Marques Mendes achou o tal ordenado "pornográfico", Pacheco Pereira não lhe ficou atrás e até António Capucho disse que "gostava de ter um ordenado assim"!!! Mas as coisas não ficam por aqui. A nomeação de Braga de Macedo - o tal que paga as exposições da filha com os fundos da fundação a que preside (Instituto de Investigação Científica Tropical) - tem levantado muita poeira e, sobretudo, de Celeste Cardona, - a tal que nem Catroga soube como lá foi parar -, conhecida figura que por onde passa deixa um rasto de incompetência que é difícil de esconder e/ou justificar. Mas o mais grave é ver pessoas do PSD e do CDS a tentar justfiicar aquilo em que eles nem sequer acreditam. E logo os mesmo que à uns meses atrás, acusavam o PS de fazer nomeações sem sentido. Mudam as moscas e a porcaria é a mesma!!! E o mais engraçado de tudo isto, se é que este assunto pode ter alguma graça, foi ver Pedro Martins, o actual secretário de Estado do emprego, que enquanto investigador e professor universitário na universidade de Queensland dizia que "as nomeações eram um fenómeno unicamente português e transversal a todos os partidos". Isto faz parte da sua tese de doutoramento. Como é que ele se sentirá a pertencer a um governo que faz exactamente o mesmo? Toda esta trapalhada já levou Domingos de Azevedo, primeiro bastonário da OTOC, a vir dizer que "Sócrates tinha razão quanto ao PEC IV, porque se fosse aprovado, Portugal ía com mais força ao apoio externo". afirmação correcta que já muitas vezes defendemos neste espaço, agora sublinhada por uma pessoa com grande visibilidade, o que torna a afirmação ainda mais incómoda. Mas não pensem que já tínhamos visto tudo esta semana. Não, ainda havia mais!!! Veio-se a saber que o BdP afinal vai pagar na íntegra os subsídios de férias e de Natal. O primeiro até já foi pago, o que significa que Cavaco Silva - o tal que nunca se engana e raramente tem dúvidas -, Manuela Ferreira Leite - a que acha que os velhos de mais de 70 anos devem pagar a hemodiálise -, Campos e Cunha - que achava o Sócrates muito mau, embora enquanto foi ministro acha-se o contrário -, não vão ter cortes nos subsídios de férias e Natal! Será que vão abdicar deles "a bem da Nação"?! Isso ainda não sabemos, embora os administradores da dita instituição já viessem afirmar que prescindiam deles. Será que o fizeram de moto próprio ou sentiram-se mal com aquilo que correu por este país fora. Afinal parece que temos regras bem diferentes para Portugal e para os portugueses. Sabemos da independência do BdP relativamente ao governo, mas também sabemos que, em momentos difíceis como este por que estamos a passar, o exemplo é algo importante e atitudes como esta do regulador bancário não pode passar despercebida. Entretanto, a CGD já informou os funcionários que irão perder os subsídios. Valha-nos isso!!! O "governador" da Madeira, finalmente, anda à rasca! Depois de tanta trapalhada, de tanta chafurdice, ficou de "tanga". Mas enfim, quando pensávamos que tudo estava perdido, eis que o ministro da economia(?) - o tal cujo nome nunca recordamos - apareceu com uma teoria revolucionário que nos vai tirar da crise. E tão simples que ninguém viu. A solução afinal está no pastel de nata!!! Eis a estratégia deste governo para o crescimento!!! Neste país desgovernado, sem rumo nem esperança, o crescimento económico é algo que não se vê, o desemprego não pára de aumentar, o colapso está ao dobrar da esquina. Mas não pensem que o desemprego é um problema só nosso, como afirmavam muitos dos que hoje são governo, mas é algo bem mais profundo. Existem 5,6 milhões de jovens desempregados em toda a Europa, até parece que estamos a viver em tempo de guerra. As agências de "rating" não param de atacar o euro. A Grécia está quase fora da zona euro e, quiçá, da UE e veremos o que irá acontecer aos restantes países periféricos como Portugal. Mas a crise hoje é bem mais abrangente. Os países mais centrais da UE começam a ver-se acossados pelo problema. Agora já não só os periféricos e desgovernados!!! Sexta-feira passada a S&P baixou "rating" da França!!! Portugal foi atirado para "lixo" como já tinha acontecido com as outras agências. (Embora tal não nos afecte demasiado porque estamos sobre a alçada de protecção externa, mas isso não significa que os juros que temos que pagar tenham sofrido um acréscimo, bem como, a dívida que temos que colocar tenha investidores interessados. E lá apareceram logo uns politiqueiros a dizer que as agências, com atitudes destas, apenas se describilizam. À uns meses diziam que não se deveria tocar em tais entidades, elas tinham sempre razão!!!) Mas também, países considerados mais estáveis como a Áustria, por exemplo, viram o seu "rating" diminuído. Será que agora que os grandes foram atingidos as medidas vão aparecer? E agora sr. Sarkozy o que pretende fazer? Será que a sua amiga Merkel lhe vai dar uma ajudinha? Ou será que se afastará para preservar o seu país? Afinal a sua economia que é a segunda da Europa não é tão sólida quando o sr. pensava!!! Neste emaranhado de confusões onde ninguém se entende, é-nos difícil perspectivar o que ainda virá por aí. Mas seguramente que não serão boas coisas. A desagregação da UE está em cima da mesa, o estilhaçar do euro começa a ser uma evidência, e uma saída para tudo isto parece não estar tão perto quanto alguns diziam. Daí a actualidade do artigo de Ana Sá Lopes que reproduzimos acima. Pleno de actualidade e de clarividência. Leiam-no com atenção por que verão que, afinal, não somos tão diferentes e piores do que os outros, embora nos tivessem feito crer nisso, - mesmo forças internas -, na sua ânsia desmedida de "ir ao pote"!!! Agora, pensem, reflictam, analisem com a distância necessária para que a clarividência não seja entorpecida por quaisquer simpatias partidárias. Afinal, é o nosso futuro que está em causa!

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