Conversas comigo mesmo - LII
Existem coisas pequenas e grandes, coisas que levaremos para o resto de nossas vidas. Talvez sejam poucas, quem sabe sejam muitas - depende de cada um, depende da vida que cada um de nós levou. Levaremos lembranças, coisas que sempre serão inesquecíveis para nós, coisas que nos marcarão, que mexerão com a nossa existência em algum instante. Provavelmente irão pela vida afora coleccionando essas coisas, colocando em ordem de grandeza cada detalhe que nos foi importante, cada momento que interferiu nos nossos dias, que deixou marcas, cada instante que foi cravado no nosso peito como uma tatuagem. Marcas. Isso... Serão marcas, umas mais profundas, outras superficiais, porém com algum significado também. Serão detalhes que guardaremos dentro de nós e que se contarmos para terceiros talvez não tenha a menor importância, pois só nós saberemos o quanto foi incrível vivê-los. Poderá ser uma música, quem sabe um livro, talvez uma poesia, uma carta, um e-mail, uma viagem, uma frase que alguém tenha nos dito num momento certo. Poderá ser um raiar de sol, um bouquet de flores que se recebeu, um cartão de Natal, uma palavra amiga num momento preciso. Talvez venha a ser um sentimento que foi abandonado, uma decepção, a perda de alguém querido, um certo encontro casual, um desencontro proposital. Quem sabe uma amizade incomparável, um sonho que foi alcançado após muita luta, um que deixou de existir por puro fracasso. Pode ser simplesmente um instante, um olhar, um sorriso, um perfume, um beijo. Para o resto de nossas vidas levaremos pessoas guardadas dentro de nós. Umas porque nos dedicaram um carinho enorme, outras porque foram o objecto do nosso amor, ainda outras por terem nos magoado profundamente, quem sabe haverá algumas que deixarão marcas profundas por terem sido tão rápidas em nossas vidas e terem conseguido ainda assim plantar dentro de nós tanta coisa boa. Lá na frente é que poderemos realmente saber a qualidade de vida que tivemos, a quantidade de marcas que conseguimos carregar connosco e a riqueza que cada uma delas guardou dentro de si. Bem lá na frente é que poderemos avaliar do que exactamente foi feita a nossa vida, se de amor ou de rancor, se de alegrias ou tristezas, se de vitórias ou derrotas, se de ilusões ou realidades. Pensem sempre que hoje é só o começo de tudo, que se houver algo errado ainda está em tempo de ser mudado e que o resto de nossas vidas de certa forma ainda está em nossas mãos. E se a vida lhe negou um sonho, mostre-lhe que você é forte para lhe negar uma lágrima. Nesta noite de Reis, fim do ciclo natalício, onde em algumas paragens se tem o hábito de dar presentes, pensemos sobre isto, sobre os presentes que nos deram e naqueles que demos, nos que gostaríamos de ter dado e naqueles que gostaríamos de ter recebido, não os presentes materiais, mas aqueles que derivam dos afectos que são, verdadeiramente, as marcas que transportamos dentro de nós ao longo duma vida. Um Feliz dia de Reis, e principalmente tudo que desejarem se concretize.
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