Homenagem a um amigo
"Senta-te, fecha os olhos e relaxa. Sente a tua respiração, sente o bater do teu coração, sente a vida que és e sente tudo o que podes captar neste momento, sente tudo o que és e tudo o que tens à tua volta. Deixa-te embrenhar nos teus sentidos e experimenta o que a vida tem para te oferecer neste teu presente, neste momento. Inspira lentamente o ar que respiras e que te faz viver toca lentamente o que te rodeia e que te faz existir saboreia o que tiveres para comer e que te faz mexer ouve o som que te envolve e que te faz acreditar observa com pormenor a beleza que te acolhe e que te faz emocionar. Sente todos os teus sentidos e aproveita-os porque o momento que acontece agora só tu o podes viver. Acredita nas pessoas que te rodeiam mas sempre com a certeza que acreditas em TI, porque tu és especial, porque tu és simplesmente isso, aquilo que quiseres ser! Vive este momento especial. Não desperdiçes este momento com tristezas, com mágoas e com rancores. Aproveita este momento com alegria, com felicidade, com amizade e com o amor que podes ter! Vive este momento especial porque se não o viveres, ninguém o vai poder fazer por ti! Vive este momento especial, vives?" Palavras profundas dum grande amigo o Hugo. Este jovem amigo, de muitos talentos, nem sempre teve uma vida fácil, mas ele - e o destino - ajudaram a compôr as coisas. Hoje é um homem de profundo sentimento como as palavras acima mostram. Não ficou parado à beira do caminho a lamentar a sua triste sorte - triste no início da sua vida - mas soube seguir em frente, ser audaz, e a vida protegeu-o. Os homens podem dividir-se em dois grupos: os que seguem em frente e fazem alguma coisa e os que vão atrás a criticar. O Hugo pertence ao primeiro grupo. Nunca se preocupou com o que diziam, com as críticas que lhe faziam, e fez bem. Não devemos dar demasiada atenção ao que os críticos dizem. Nunca foi erguida uma estátua em honra de um crítico. E aqui o trago hoje. O Hugo que quase vi nascer é hoje um homem, um homem de muitos saberes. Um amigo da minha casa, que sempre soube honrar. Minha mãe via nele uma espécie de filho, tinha-lhe um carinho desmesurado e ele, quando vinha a Portugal vindo da África do Sul para onde tinha ido viver com o pai, nunca deixava de a visitar. Foi assim sempre, inclusivé veio visitá-la no dia anterior à sua morte. Pensando que ela estava em casa, o Hugo lá apareceu. Fui eu quem o recebeu. Fui eu quem chorou à sua frente por tudo aquilo que tinham feito à minha mãe - que eram pessoas da sua família - e que a conduziria à morte horas depois no hospital. Mas o Hugo soube passar por cima disso. Soube sempre ser amigo, soube sempre separar o trigo do joio. Assim, fomos construindo uma amizade cada vez mais sólida de que muito me orgulho. O Hugo é uma referência que tenho por certa, que me honra com a sua amizade. No mundo existe gente para tudo e para nada. Poderão dizer que estou a fazer poesia, mas não. A minha poesia é cheia de imperfeições. Se eu fosse crítico, apontaria muitos defeitos. Não vou apontar. Deixo para os outros. A minha obra é pública. A amizade é uma dessas obras, e quando ela é sincera e profunda, como esta que tenho para com o Hugo, ainda é melhor. O Hugo tem idade para ser meu filho, se calhar daí vem o carinho que tenho por ele. E estou-lhe grato pela amizade, que ajudou a afastar alguns fantasmas. É neste concerto para corpo e alma que compreendi, então, que a vida não é uma sonata que, para realizar a sua beleza, tem de ser tocada até o fim. Dei-me conta, ao contrário, de que a vida é um álbum de mini-sonatas. Cada momento de beleza vivido e amado, por efêmero que seja, é uma experiência completa que está destinada à eternidade. Um único momento de beleza e amor justifica a vida inteira.
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