conversas comigo mesmo - LIII
Quem vive de passado é professor de história. Se não é este o seu ofício, vamos olhar para frente. Que 2012 seja um ano de coisas boas. Entendo coisas boas como ter saúde, poder gostar de quem gosta de ti, poder amar quem te ama, poder ter amigos de verdade - mesmo que sejam poucos - para dar boas gargalhadas, poder viajar, poder conhecer lugares novos, poder cruzar com gente diferente de ti e que te inspire, poder ter boas ideias, poder transformar estas boas ideias em realidade, poder ter prazer no que fazes, poder mergulhar no mar, poder ler boas histórias, poder assistir a bons filmes, poder dar mais algumas boas gargalhadas além das que já demos algumas linhas acima, poder dormir com quem te ama, poder acordar com quem te ama, poder ter amigos trabalhando contigo, poder não te importares com a quantidade mas sim com a qualidade, poder melhorar o lugar onde se mora, poder dar conforto à tua família, poder ter sobra de algum dinheiro no fim do mês, poder ter opinião, poder saber que tu podes muita coisa. E para poder, basta querer. Não esperes que alguém faça tudo isso por ti, arregassa as mangas, pensa positivo, não faças com os outros o que não gostarias que fizessem contigo. A semana passada fechou-se o ciclo oficial da natavidade com a festa de Reis Magos. Segundo se pode ler no Evangelho: "Tinha Jesus nascido em Belém da Judeia, nos dias de Herodes, quando chegaram a Jerusalém uns Magos vindos do Oriente. 'Onde está - perguntaram eles - o rei dos judeus que acaba de nascer? Nós vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-l'O' ". A história dos Magos é uma bela catequese sobre o caminho da fé, um caminho que não é fácil. Há que estar abertos à luz para se captar os seus sinais. Isto é, há que manter o desejo e a busca de um sentido mais profundo para a vida. Só assim o poderemos encontrar. Há que desinstalar-se e despojar-se para se responder à chamada, e seguir com fidelidade e constância a orientação que nos vem da Palavra. Há que superar a oposição do ambiente que sempre detesta e ridiculariza o que o põe em questão. Há que sofrer as noites da alma pois a fé é também, em certas horas, uma dúvida atroz, uma espécie de noite onde se procura. Há que aceitar, finalmente, que Deus é imprevisível e desconcertante pois só assim é que poderemos pressenti-Lo e acolhê-Lo onde e como ele quiser manifestar-Se ou vir ao nosso encontro. Na verdade, a fé não é uma "coisa" que nos é dada ao nascer e que apenas se deve guardar ou conservar. É um caminho de todos os dias e para todos os dias, um avançar que implica, necessariamente, renúncia a uma certa forma de viver, de compreender-se a si mesmo de se situar no mundo e em face dos outros e aceitação de uma nova luz que confere sentido novo a tudo e a todos, transformando o nosso pensar e o nosso agir. Isto é a nossa fé judaico-cristã em que fomos educados e crescemos. Mas isso, não significa - como atrás já referi - por vezes o acervo da dúvida que corrói. Poderá isso ser considerado um erro, mas confessar um erro é demonstrar, com modéstia, que se fez progresso na arte de raciocinar. Porque por vezes, a dúvida assicata o engenho, provoca a pesquisa, induz à descoberta. Por vezes, conduz ao desespero e à intemperança. Assim, só nos resta deixar a chuva cair, ela esconde as lágrimas de quem perdeu a voz quando o coração adoeceu. Por vezes, a razão. Por vezes, a esperança. Por vezes, e no limite, a fé.
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