Elegia para um "sem-abrigo"
A vida está mal e está mal para todos, sobretudo para aqueles que já vivem nas veredas da indigência. Isto prende-se com a situação ocorrida à dias dum pobre "sem-abrigo" - se é que poderemos chamar-lhe assim, daí as aspas - cuja parca reforma não dá para as suas despesas. Com toda a certeza estaria a falar da medicação que a idade torna imprescindível, da alimentação e doutras coisas básicas do dia-a-dia. A sua esposa, ainda segundo o próprio, tem uma reforma de miséria que faz com que ela tenha que viver à sua custa, e logo à custa dele a quem a reforma não chega! Este desabafo público - porque foi público, fruto com certeza do seu desespero - gerou uma onda de solidariedade jamais vista entre nós. Todos sabemos que o povo português tem um grande coração, mas poucos acreditariam que tal vaga de fundo se erguesse. Logo apareceram contas abertas para angariar fundos para o pobre homem, as redes sociais tornaram o fenómeno com mais visibilidade mesmo para além fronteiras, donde muitos perguntavam como podiam ajudar. O Banco Alimentar contra a fome já se disponibilizou para dar uma ajuda, e até o governo, não deve ficar insensível a tudo isto. Os "media" deram amplitude ao problema e, de repente, o pobre senhor deve-se ter sentido muito reconfortado. Ele que sempre poupou e muito, ao que diz, vê-se agora numa situação por que nunca julgou vir a passar. O referido senhor passou a ter um acompanhamento jornalístico que ele nunca imaginou, e que até o incomoda, visto ele ser um homem simples e modesto nada dado a estas manifestações públicas. Se Portugal ainda não conseguiu resolver o problema da pobreza, é bom que medite no que está a acontecer com este cidadão. Nem todos terão a mesma sorte certamente, nem todos terão a coragem de abrir o seu coração em público, mas se expuserem o seu caso de coração aberto na praça pública, talvez a pobreza se irradique, porque os portugueses, - povo solidário -, deixarão de comer menos mal, para passar a comer mal, mas com o reconforto de ajudarem o próximo. Como diz o povo, "onde comem dois podem comer três", é esta a alma lusíada engrandecida e cantada por intelectuais como Camões, Pessoa ou Torga. Nunca duvidamos que o assunto se viesse a resolver, embora acha-se-mos que tal não tomaria tal proporção. Mas uma pergunta fica no ar. Afinal quem é este senhor, que dum dia para o outro virou notícia? Pouco se sabe dele, porque é uma pessoa muito discreta. Sabe-se que vive num palácio lá para Lisboa que não lhe pertence, e tem umas propriedades no Algarve. Coisa pouca! Há quem o veja a ser transportado num carro de luxo, mas que não é dele, mas pouco mais. Mas o certo, aquilo que de facto se sabe, é que se chama Silva - o Sr. Silva - ... simplesmente!!!
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