Turma Formadores Certform 66

Monday, January 30, 2012

Equivocos da democracia portuguesa - 164

Apesar do tempo já decorrido, ainda os estilhaços da afirmação de Cavaco sobre a sua reforma se fazem sentir. A semana passada, Carlos Abreu Amorim, um dos vice-presidentes do PSD, diz que: "Quando Cavaco está calado, normalmente está bem". E acrescentou: "O PR não está à altura do país". Depois de tecer fortes críticas ao presidente da República, termina dizendo: "Senti-me envergonhado quando ouvi as afirmações de Cavaco na televisão". Isto diz bem do sentimento que, uma frase infeliz, é capaz de provocar nas populações. Um cidadão comum teve a ideia de colocar uma petição online a pedir a demissão de Cavaco. O certo é que já leva cerca de quarenta mil assinaturas (!), que embora não tenha efeitos práticos, pode mostrar que o cidadão começa a ter mais conscencialização da situação do país, e começa a reinvindicar uma maior participação, mas activa e interventiva. Para além disto, não deixa de ser curioso que o social-democrata Cavaco, apareça cada vez com uma mais clara oposição ao social-liberal Passos Coelho. E vai daí, algumas personalidades próximas de Cavaco, os chamados "cavaquistas" já começaram a pôr em causa a governação de Vítor Gaspar, com a falta de preocupação com o social. Isto diz bem da confusão interna que vem existindo entre os orgãos de soberania e que agora começa a tomar formas mais visíveis, o que não deixa de ser um espelho daquilo que sempre foi o PSD com as suas habituais divisões internas. Na Europa a confusão reinante não é menor, onde a falta de rumo, a falta de estratégia, somado a uma visão paroquial de alguns estados, como a França e a Alemanha, estão a criar condições de ruptura da própria UE e até da sobrevivência do euro. Agora foi a ideia peregrina de Merkel em tirar a autonomia financeira à Grécia. Esta ideia já tinha sido aflorada pela própria em Davos, mas agora tornou-se mais explícita. Se isso fosse a evolução dum projecto federalista da UE, - modelo que defendemos -, até estaríamos de acordo, mas como sabemos que isso não passa para além duma ingerência pura e simples da Alemanha noutro estado, aí não podemos estar de acordo. Estas indefinições, estas ideias peregrinas que, de tempos a tempos, vão aparecendo aqui e ali, são bem a ideia da desarticulação que se vive no seio da UE. E, o mais grave de tudo isto, é que pode não ser só a UE a estar em perigo, mas também, a própria concepção de democracia, como nós a entendemos. À que estar atento, porque os ventos são cruzados e sopram com intensidade. E não esquecer a célebre frase de Jean-Jacques Rousseau: "Uma sociedade só é democrática quando não houver ninguém tão rico que possa comprar alguém, nem tão pobre que necessite de se vender a alguém". Um bom tema de reflexão face ao mundo atabalhoado em que vivemos, sem rumo, sem ideais, sem futuro, sem esperança, em suma, sem glória.

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