Equivocos da democracia portuguesa - 166
Afinal, depois de pouco mais de meio ano de governação ultraliberal de Passos Coelho, as coisas estão bem piores do que antes. A receita da "troika" parece estar a dar os mesmos resultados desastrosos que são visíveis na Grécia. A dívida atingiu já os 110% do PIB! A estabilização da situação é uma miragem. Não existe quaisquer indícios duma estratégia para o crescimento da economia e enquanto isso não acontecer o investimento privado não aparecerá e a criação de emprego será impensável. O crescimento está em divergência com o da UE e, especialmente, dos países da zona euro e é bom notar que só há criação de emprego quando a economia crescer mais de 2% do PIB. Até agora está estagnada! Estagnou na primeira década deste século e na segunda continua com a mesma tendência. Recessão é a palavra de ordem. Afinal para quem tinha uma receita para resolver os problemas do país em dois meses, convenhamos que sabe a pouco. E é bom lembrar que, repetidamente, quem o afirmou na Assembleia da República foi o actual ministro da administração interna, Miguel Macedo. Possivelmente já não se lembrará, mas os portugueses não se esquecem. O desalento, para não dizer desespero é tal, que se vem quebrando a regra que o primeiro-ministro assumiu a quando da tomada de posse, a saber, que nunca iriam invocar o passado para justificar as insuficiências do presente. Mas rapidamente se verificou que não seria assim. Afinal iam seguir o caminho que outros governos já tinham seguido, coisa habitual em Portugal, onde os governantes não têm capacidade de assumir a sua própria governação. Depois de no parlamento termos assistido a muitas destas desculpas, logo alguns ministros seguiram na peugada e, até o primeiro-ministro, não se eximiu a tal. Mas, um dos ministros tinha até agora evitado ir por aí. Tratava-se de Vítor Gaspar. Mas para nossa desilusão, à dias o ministro das finanças não pode evitar o remoque, vindo acusar os governos anteriores de não cumprirem os orçamentos. Embora não seguindo as ideias de Vítor Gaspar, sempre vimos nele um ministro muito competente, talvez o mais competente dos que estão no governo. Contudo, não deixamos de registar com tristeza que Vítor Gaspar tenha seguido o mesmo caminho. O desnorte é tal, o desespero é tão evidente que não restam outras alternativas para além de culpar o passado. Os portugueses não querem saber do passado. Se mudaram de governo, foi com a promessa de esquecer o passado e trilhar novo caminho. Mas nada disso veio a acontecer, como tem sido habitual entre nós. O mal-estar é geral e as recentes trocas de palavras entre o ministro da defesa e os militares começam a deixar preocupadas muitas pessoas. E é bom estar atento a estes movimentos. Seria bom lembrar a Aguiar Branco que olhasse para a nossa História recente. Talvez fosse lá encontrar resposta para algumas dúvidas que tenha. (Atente-se nas palavras do capelão das forças armadas, D. Januário Torgal Ferreira, que com a contenção habitual dos membros da Igreja, mas com o desassombro de quem conhece bem por dentro a instituição castrense, proferiu ontem. Um alerta e um aviso. Sem tibiezas. E já agora, nas palavras do Prof. Adriano Moreira, que vão no mesmo sentido, falando na possibilidade de falta de coesão social e de sacrifícios não repartidos equitativamente por todos os portugueses). Mas se a embrulhada em que o ministro da defesa se meteu já é algo de preocupante, vimos assistindo a muitas outras trapalhadas desnecessárias em que o governo se vem a enredar. Polémicas estéreis como é o caso da tolerância de ponto no Carnaval. Não somos sequer dos que acreditam que o Carnaval tem tradições entre nós, - de facto não tem -, mas convenhamos que anunciar uma decisão destas da maneira como foi anunciada é, no mínimo, uma irresponsabilidade. E que é que daí resultou? Nada. A maioria das câmaras municipais vai dar a tolerância de ponto, muitas delas da área do partido do governo, como é o caso da câmara do Porto. (E convenhamos, no Porto não existe nenhuma tradição carnavalesca). Mas o argumento para tal é duma fragilidade impensável. Dizer que esse dia iria aumentar a competitividade do país, é no mínimo, ridículo. Até António Saraiva, o representante do patronato, veio questionar esta medida, dizendo que acha que não é esse dia que iria aumentar a competitividade, mas sim, outras medidas bem mais acertivas. Depois de tudo isto, e após seis meses de governação, a estratégia que fica é a do pastel de nata e pouco mais. E ainda vem o primeiro-ministro falar em pieguices! Será aqui bom lembrar o nosso Camões quando diz que "um rei fraco faz fraca a forte gente". Nunca uma frase se ajustou tão bem a uma situação como esta. Numa Europa cada vez mais desarticulada e incapaz, Portugal é mais um no desalento geral. E embora Merkel não tenha deixado de dar umas "palmadas" a João Jardim - aliás merecidas! - não podemos deixar de fazer aqui alguns reparos. Em primeiro lugar não compete à chancelarina imiscuir-se nos assuntos internos dos outros estados. Depois, ela deve reflectir na estratégia que tem seguido, e como tem colocado a UE à beira do abismo. Como já aqui afirmamos por diversas vezes, a Alemanha com a sua postura arrogante, arrastou a Europa para duas guerras mundiais, e as coisas a continuarem assim, pode vir a ser responsável por uma terceira. Há coisas que mesmo sendo verdadeiras não podem ser ditas publicamente, despudoramente, em público por quem tem tantas responsabilidades. E, curiosamente, aqueles que vieram defender o primeiro-ministro face a uma "gaffe" perante alunos(!), já tiveram uma atitude bem diferente em relação a Merkel que também falava perante alunos(!). Enfim, os caminhos da política são insondáveis. Mas aqui também nos vem à memória as palavras de Luís Vaz de Camões, in Os Lusíadas, Canto X: "Fazei, Senhor, que nunca os admirados Alemães, Galos, Ítalos e Ingleses, possam dizer que são para mandados, mais que para mandar, os Portugueses." A História repete-se mas nunca da mesma maneira, é comum dizer-se, embora disso não tenhamos a plena certeza.
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