Turma Formadores Certform 66

Tuesday, February 14, 2012

Equivocos da democracia portuguesa - 167

Afinal aquilo que aqui andávamos a defender à muitos meses não era tão disparatado assim. Como então dissemos, a reestruturação da dívida portuguesa já deveria ter sido discutida internamente no governo embora tal não tivesse sido tornado público para não alarmar os mercados, o que é razoável de aceitar. Mas, se dúvidas houvesse, a conversa tida entre os ministros das finanças alemão e português afastaria qualquer dúvida. Mesmo assim, e depois do governo ter afirmado que não iria dispor da prerrogativa, os mercados reagiram mal e, logo de imediato, fizeram sentir o seu descontentamento. Mas tal é inevitável, o que Catroga veio afirmar a semana passada aproveitando a onda criada, não é nada de novo. Todos sabíamos que Portugal não tem condições de pagar o serviço da dívida, muito menos a dívida, em tão curto espaço de tempo. Será o trabalho duma geração, por mais que doa a alguém. Com a economia a contrair, com o desemprego a aumentar, com a falta de estratégia para que a economia cresça, estão criadas as condições de estagnação, ou próximo disso, e a não alavancagem da economia será um facto. Como já dissemos em anterior crónica, uma economia para criar emprego tem que crescer acima dos 2%, coisa bem diversa daquilo que hoje se passa entre nós. Mas se a conversa entre Vítor Gaspar e Wolfgang Schauble nos poderia dar mais tranquilidade por sabermos que os alemães estão dispostos a dar-nos mais tempo contrariando os erros que têm cometido na Grécia, por outro, não deixou de dar um sentimento de humilhação ver o nosso ministro das finanças numa postura subserviente face ao seu homólogo alemão. (E também demonstra aquilo que já todos sabíamos, que a Comissão Europeia e Durão Barroso não mandam nada em Bruxelas). Todos sabemos que é assim, mas quando o vimos em imagens e som - captados indevidamente pela TVI - e, sobretudo, a sobranceria do alemão, não deixa de ser chocante. Nós que não assistimos à implantação da República e, muito menos, ao factor que a legitimou que foi o chamado "ultimato inglês", podemos hoje, à distância de mais de um século, sentir o que esses portugueses de então sentiram. A humilhação nacional, a dependência, já nessa altura motivada pela pequenêz territorial, a perifericidade e, sobretudo, a dependência económica, isto é, a crise que também nessa altura já se fazia sentir. Ontem como hoje, este gesto tem um sabor a humilhação, a beija-mão no pior sentido da palavra, a perda de soberania. Só que na altura a atitude inglesa foi amplamente e calorosamente debatida, a atitude de hoje não contou com um esclarecimento do governo, assistindo-se a um meter a cabeça na areia como vem sendo habitual. Como na anterior crónica já tinhamos dito, a História repete-se, mas não temos a certeza de que seja sempre da mesma maneira. E, pelos vistos, não foi!

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