Turma Formadores Certform 66

Tuesday, January 15, 2013

Equivocos da democracia portuguesa - 233

Ontem passamos a ser um país de ricos! Ontem passamos a ser todos, ou quase todos ricos! Ontem foram publicadas as novas tabelas do IRS e ficamos a saber que quem ganha mais de 595 euros passou a ser enquadrado pelos novos escalões, isto é, uma pessoa que ganhe mais de 595 euros passou a ser considerada rica! Se a este ingrediente juntarmos os outros que constam do OE 2013, de facto, somos um país de ricos miseráveis. Numa sociedade em que nem o salário mínimo é respeitado talvez quem ganhe 595 euros seja de facto considerado rico. Ontem também se ficou a saber que uma soma muito apreciável de portugueses estão a ganhar salários de 300 euros ou menos.  E o seu número cresce cada vez mais. Sujeitam-se a isso porque têm famílias para sustentar. Assim se justifica o novo significado que o termo "rico" encerra para os nossos governantes. Do crescimento nem se fala porque simplesmente não existe, do emprego não se fala porque cada vez se vão batendo recordes pelas piores razões, da saúde não se fala quando parece haver hospitais a racionar certo tipo de fármacos, do ensino não se fala porque as condições deste são cada vez piores empurrando os jovens para o privado ou para o abandono escolar. E depois de tudo isto ainda vemos o PM nos Açores incentivar os portugueses a pensar para além da "troika"! Depois da "troika" que restará? Não estaremos todos mortos como dizia Ferreira Leite? E não vamos entrar sequer no relatório do FMI, porque achamos que não está clara a sua aparição, bem como, o seu propósito. Sobre ele aguardamos para ver. Embora achemos que nem tudo de mal vem do FMI ou da "troika", mas temos todos a perceção de se usam estas entidades porque dá jeito a estas políticas. Esta é a fotografia do Portugal atual, do Portugal onde os milhões existem não para a economia mas sim para os bancos, como foi agora o caso do Banif, e como todos sabemos, estes não estão interessados em investir ou em conceder crédito à economia. Mas esta é também a fotografia da Europa, duma Europa que tem conduzido este processo, como o dos outros países resgatados, duma forma inábil, desprendida, irresponsável. Se o objetivo era a desagregação da Europa ou o seu enfraquecimento, pois parece que os objetivos estão a ser atingidos. Não esqueçamos que entre a Europa do Norte e a do Sul, o fosso tem-se vindo a ampliar nestes últimos anos, já com uma diferença de 1,5% que já é um valor apreciável. Hoje no Público, Eduardo Lourenço escreve sobre "o crepúsculo da Europa" e afirma que "as três maiores potências europeias, Alemanha, França e Reino Unido, estão mais interessadas em evitar que qualquer delas seja o motor de desenvolvimento europeu do que ajudarem a Europa a sair desta situação". Esta é a realidade europeia, esta é a realidade portuguesa, afinal ainda fazemos parte da Europa. Dirão alguns que já que falamos em "crepúsculo" isto mereceria ser sublinhado por uma música heróica, épica até, talvez Wagner, que escreveu uma ópera sobre o tema. Mas como as coisas estão, achamos que é mais adequado uma marcha fúnebre, ou mesmo um "Te Deum" dos muitos que por aí proliferam.

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