Equivocos da democracia portuguesa - 231
Aqui estamos a iniciar mais um ano. Este particularmente difícil, de dificuldade anunciada por um governo incapaz de inverter a situação em que nos encontramos, prometendo-nos miríades a todo o momento onde apenas vislumbramos desespero, miséria, frustração. E tal ainda ampliado pela já crónica incapacidade dos governantes em motivar as pessoas para fazer face às dificuldades que se vivem. Dirão alguns, que é difícil fazê-lo. É verdade, mas quando não se acredita no que se está a fazer, quando não se sabe o rumo que tomar, ainda é mais difícil. Isto é o que o governo vai mostrando, aqui e ali, a dificuldade que tem em acreditar nas suas próprias políticas que, diga-se em abono da verdade, cada vez vão cavando mais o fundo ao abismo para que nos empurraram. E se a mensagem de Natal do PM roçou o patético, que dizer dos seus "desabafos" no facebook, quais atos de contrição!!! Essa conversa mole de quem embala criancinhas começa a estar gasta e os portugueses querem medidas mais definitivas face ao sufoco da vida que levam. Mas a que assistimos nós? A mais do mesmo, a receitas cada vez mais severas, ao empobrecimento mais aviltante, que nos vai empurrando para muito abaixo do limiar de pobreza. Hoje Portugal é um país pobre e de pobres. Um país a envelhecer a olhos vistos onde a capacidade de resistir é cada vez menor. Um jovem vai sempre buscar forças onde menos se espera, com uma capacidade de resistência bem diferente dum menos jovem, com encargos, com família a cargo, com a idade mais avançada que o coloca fora do mercado de trabalho, e com uma capacidade cada vez menor de reagir. Este é o retrato dum país que já foi desenvolvido e que, de um momento para o outro, foi colocado na vereda da miséria. E não nos falem do governo anterior. Primeiro, porque se quisermos ir por aí, não será apenas o anterior a ser julgado, mas muitos mais desde os idos anos 80, que começaram a bravata com Cavaco então PM. Depois, porque em apenas um ano e meio, este governo consegui agravar todos os indicadores económicos duma forma verdadeiramente insustentável. É ver o que está a acontecer com o desemprego, com a dívida e até com o défice que era a bandeira maior deste executivo. Dizia o bispo emérito de Setúbal, D. Manuel Martins, "os governantes não estão à altura do momento". Esta é mais uma voz da Igreja a levantar-se contra este delapidar da situação social no nosso país. A Igreja tem feito um coro de protesto contra o executivo e não será, seguramente, um dado a ignorar. Basta ver as mensagens e as homilías do Cardeal Patriarca, bem como, as mensagens proferidas em muitas paróquias no Natal e no Ano Novo. De tudo isto, ficamos com a sensação de que um enorme vazio se vai abrindo cada vez mais entre as populações e o governo que tem a obrigação de as governar. Perante as dificuldades crescentes dos portugueses, os governantes, de cima do pedestal onde se encontram, nos seus luxosos gabinetes, apenas nos atiram com estatísticas e mais estatísticas, com se fosse com isso que o comum dos cidadãos vai governar a sua vida, com o cortejo de aumento de preços que sempre se fazem sentir no início de cada ano, na carga tributária que foi aprovada no OE com sinal de esbulho mais do que outra coisa. O último reduto que ainda restava aos portugueses era o PR. Este com os seus silêncios, os seus "famosos" tabús, a sua linguagem enigmática que já ninguém leva a sério, - nem o governo que o ignora a cada passo -, lá foi aprovando o OE para depois o enviar para o TC. Para além duma manobra política isto significa aquilo que o povo diz de "estar de bem com Deus e com o diabo". Duma penada, Cavaco ajuda o seu governo, do seu partido, e acalma as hostes daqueles que vinham invetivando o PR a vetar o documento. Política de ziguezague dum Cavaco que também sente que é responsável pelo descalabro iniciada nos idos de 80. Este é também um sinal de se ter o PR e o governo da mesma tendência política, depois dá nisto, e que ninguém se queixe. Estas pessoas estão lá porque alguém (muitos) lá os colocaram. Com este cenário em pano de fundo, é difícil fazerem-se votos dum bom ano. Porque ele será tudo menos um bom ano. Será o ano do saque institucional aos portugueses, onde estes estão cada vez mais próximos de terem de pagar para trabalhar. Como dizia Bagão Félix, "os que trabalham estão a ser expurgados, por este andar, mais vale não trabalhar. Está-se a incentivar a não trabalhar". Palavras dum homem que sendo de direita e conhecedor das finanças públicas não podem ser ignoradas. O calvário das nossas vidas já começou à muito, este ano significa que ele se tornou mais íngreme e portanto, mais difícil até pelo cansaço que já todos levamos de tantas dificuldades. Corremos o risco de este novo ano se tornar num calvário permanente, numa "via crucis" à qual poucos podem escapar. E no fim, qual será o resultado? Apenas o nada, o vazio, o desespero.
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