Turma Formadores Certform 66

Wednesday, December 19, 2012

Equivocos da democracia portuguesa - 230

Aproxima-se o fim deste ano que não deixa saudades a ninguém. O novo que se aproxima também parece já vir inquinado à nascença. Mas este ano não se despedirá de todos nós sem que nos deixe algumas perplexidades verdadeiramente definitivas. Desde logo, a rejeição de Merkel de subir os impostos à classe média do seu país por ser esta "a espinha dorsal da economia alemã", segundo a própria. É caso para perguntar, e afinal a classe média dos outros países, como o nosso, também não são estruturais da economia? No caso português, para além de ser estruturante da economia, a classe média é, verdadeiramente, um pilar do próprio regime democrático. E então, Sra. Merkel, que dizer disto? Continua a mandar executar a mesma política de terra queimada ao seu subordinado governo português? E não basta dizer que não sabia de nada, porque já todos sabemos que este governo tudo fará para lhe agradar, sejam quais forem as consequências. Mas certamente que tem informação previligiada dos seus assessores para saber que é assim. Contudo, outras questões merecem a nossa atenção. Desde logo, o famigerado acordo para haver uma centralidade e supervisão de toda a política europeia. Algo que de há muito, nós e tantos outros, vimos defendendo. Quando defendemos o federalismo da UE, estavamos a incentivar uma maior coesão e compromisso entre os seus parceiros. Quando foi criado o euro, não se criaram os mecanismos inerentes a um bom desempenho da economia que só a centralidade imporá. É certo que os países aderentes tinham dez anos para corrigir as suas economias, mas isso era insuficiente, e até uma aposta algo idealista, como se veio a verificar. Só a centralidade que será cada vez mais efetiva quanto mais se caminhar em direção ao federalismo, poderá levar a que os países se nivelem, que esbatam as suas diferenças, ou pelo menos, limem as arestas mais grosseiras. E daí, todos lucrarão. Os mais ricos porque não terão que transferir tantas somas para os mais pobres, e estes, que delas não necessitarão, tendo ao seu dispor mecanismos para se auto-sustentarem. Aquilo que parecia utópico afinal vai-se materializando por força das circunstâncias. Sabemos que as resistências são muitas, sabemos que este projeto levará o seu tempo e que não será exequível amanhã. Mas o percurso, ainda que tímido, já começou, e como diz o poeta, "o caminho faz-se sempre caminhando". Esta é a direção certa. É por aqui que se buscará a saída da crise, depois de tantos avanços e recuos, de tantos discursos inócuos, de tantos sacrifícios feitos em vão. Só quando as economias começarem a crescer e a criar emprego é que o sinal de que a crise será ultrapassada está dado. E uma economia para alavancar tem que ter um crescimento acima dos 2%, até lá, só resta ir criando as condições para que tal se verifique. Na Europa em que a terra queimada é o cenário que temos, só alterará este panorama quando passar da tibieza das ações, da política paroquial que a tem movido, para outras atitudes mais audazes dignas de verdadeiros estadistas. É certo que estadistas é o que não existe na atual UE, apenas políticos de circunstância, como pequenas são as suas atitudes e as suas ideias, se as têm de facto. Numa Europa que vai sendo destruída ano após ano por políticos ultraliberais que estão mais próximos das teses monetaristas de Friedman do que das teses keynesianas, será sempre difícil obter seja o que for como um todo para o bem da União, neste cenário. Daí que qualquer avanço pode ser, e é seguramente, um avanço. Mas todos os ciclos têm um fim, e este não será exceção. No entretanto, há que ir criando as condições para que esta terra queimada que é a atual Europa, se transforme num prado verdejante. Só assim, seremos capazes de vislumbrar um novo ano bem diferente. Caso contrário, não nos safaremos, a menos que se verifiquem as teorias apocalíticas que por aí polulam. Mas mesmo que tal aconteça não estaremos certos da nossa redenção.

0 Comments:

Post a Comment

<< Home