Equivocos da democracia portuguesa - 228
Cada vez são mais as vozes que clamam contra este governo. E seguramente não o fazem por diletantismo. Fazem-no porque estão a sentir na pele a austeridade que está a ser imposta sem que nenhuma luz apareça como indiciadora da tão desejada recuperação. Novo episódio surgiu nos últimos dias que muito nos entristece. Estamos a falar da necessidade de Portugal, invocando o tratamento igual dentro da UE, vir pedir mais tempo e juros mais baixos, - como vai acontecer com a Grécia -, que muito viria aliviar a pressão a que estamos sujeitos. Se bem se lembram, Vítor Gaspar no encerramento do debate do OE2013 afirmou isso mesmo, a necessidade de Portugal vir a ter melhores condições que permitam o relançamento da economia, coisa que doutro modo não acontecerá. Vítor Gaspar falou no seguimento de afirmações de Jean-Claude Junker que se colocou ao lado de Portugal sem quaisquer reservas. Depois da reunião do Eurogrupo tudo mudou. Juncker veio dar o dito por não dito com um à-vontade que dói, como se todos nós fossemos uns ignorantes e não percebêssemos o que ele teria dito. Vítor Gaspar fez o mesmo, sem despudor, sem vergonha. Que Juncker o tenha feito do modo que fez até não nos espanta. Afinal, Juncker é o PM dum pequeno país como o Luxemburgo, sem visibilidade, e por isso, ele aproveita todas as hipóteses que tem para se tornar mediático. Há quem diga que ele gosta de aparecer. Mas de Vítor Gaspar teremos que exigir um pouco mais. Que leva a que um prestigiado economista como ele se envolva nestas trapalhadas, apontando os "media" como causadores da confusão e os portugueses de ignorantes? Há tempos atrás perguntamos o que fazia correr Gaspar? Todos sabemos que o ministro das finanças é um dos nomes falados para mais tarde vir a integrar uma posição de relevo no Eurogrupo. Mas isso não pode servir para que se faça algo e o seu contrário com o maiores dos despudores. Quando afirmamos que o governo está a ir muito para além do memorando da "troika", não o fizemos por acaso. Nunca percebemos esta opção, e só a entendemos à luz do manifesto ideológico de Passos Coelho, que nunca foi referendado pelos portugueses, mas que era a sua agenda oculta. Vejam o que pensava e dizia o atual PM anos antes de o ser e tirem as vossas ilações. A base do executivo está praticamente anulada, o desconforto é enorme, as vozes mais críticas fazem-se ouvir cada vez mais alto. Até o sempre silencioso Cavaco não deixou de dizer ontem aquilo que muitos já o vinham a dizer à muito tempo. "É preciso que Portugal tenha mais tempo e pague menos juros para criar condições para o crescimento económico" afirmou o PR. Vários comentadores, alguns até da linha ideológica do governo, vêm alertando para que a austeridade sobre austeridade nunca conduzirá ao crescimento da economia, e sem ela, Portugal irá empobrecendo mais e mais, irá definhando, irá albanizando-se. De país evoluído estamos a passar rapidamente a país do terceiro mundo, tudo fruto não da "troika" mas dum governo cego que já perdeu o pé e não sabe o que fazer. (Vejam o último comentário de José Gomes Ferreira na SIC!) E com a sua base de apoio cada vez mais reduzida, o governo é confrontado sempre que sai dos seus gabinetes com a revolta popular. E se até agora ela tem sido contida e, sobretudo, verbal, nada garante que no futuro continua assim, como bem disse Mário Soares. E não pensem que é só o governo que está em causa. É o próprio regime que está a ser atingido, é a democracia que está a ser referendada dia após dia. Basta escutar as conversas que se produzem nos espaços públicos para disso termos a noção exata. E quando estes sinais aparecem indiciam movimentos que sabemos como começam mas nunca como acabam. A nossa História de quase 900 anos tem muitos exemplos que ilustram isto. Não cometamos os mesmos erros para depois passarmos o resto da vida a carpir pelas consequências.
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