Turma Formadores Certform 66

Monday, January 14, 2013

Zico e o complexo de Édipo




Reproduzo aqui um texto que me chegou através do CHV - Centro Hospitalar Veterinário, sobre o Zico, o cão que pertensamante, terá morto uma criança a semana passada. Pela sua importância aqui o reproduzo:

"Terá sido aos 93 anos que o grego Sófocles retomou a história de Édipo, uma tragédia que fere gerações atrás de gerações. Quando tudo se tornou uma catástrofe, Édipo foi atirado para o exílio, onde vagueou sozinho, penitente, durante muitos anos. Só pelo seu sofrimento, ele atingiu um relacionamento humilde com os deuses e, quando morreu em Colono, foi abençoado por eles.

E assim o cego, mas redimido Édipo, aquele que alcançou um nível sublime de sabedoria, está apto a confessar: "O sofrimento e o tempo, o vasto tempo, foram instrutores em contentamento" (Sófocles, in: Édipo em Colono).

Antes deste exílio, Édipo era um rei que lutava por todas as suas vontades, fazendo pleno uso da maior garantia de evolução que possuímos: o livre-arbítrio. Contudo, o seu erro foi o de ceder aos condicionamentos e prisões do passado.

Vem isto a propósito das recentes agitações sociais – empoladas pelo efeito do Facebook – que abanaram o país. Numa semana em que uma deputada é detida alcoolizada, um dirigente de uma juventude partidária urina num carro da PSP porque diz estar “protegido”, em que o FMI dá ordem ao governo para mais uma série de despedimentos e cortes sociais, o alvo da pontaria intelectual e de indignação dos portugueses foram: uma miúda que quer uma mala como sua maior conquista pessoal para 2013 e o abate do Zico, um pitbull apanhado nos enredos humanos. Em menos de 1 semana, a petição contra o abate de Zico já conta 13 mil assinantes -
agora mais de 50 mil! - e uma força nas redes sociais que é obra!

A constante insistência na solução de abate de cães etiquetados como ‘potencialmente perigosos’ parece esquecer dois aspetos básicos:

1) Todos os cães aprendem algo quando existe uma mudança significativa no seu comportamento. Temos, porém, que distinguir entre as mudanças que se devem à aprendizagem das que resultam de outras causas. Se um cachorro procura comida num local, e horas antes não o fazia, isso pode dever-se a que agora esteja com mais fome do que antes e, portanto, mudou o seu estado motivacional. Existem vários tipos de aprendizagem (não associativa, associativa, latente, súbita e social). A mais comum, como Pavlov evidenciou, é a associativa (instrumental ou operante). Assim, talvez a solução de abate de cães, a que gratuitamente se optou por chamar de «perigosos», é capaz de resolver situações como a do Zico tanto como a detenção de jovens tem resolvido a questão dos adolescentes atiradores, nas escolas dos EUA.

2) O cão portou-se mal, logo o cão é perigoso. O cão é perigoso, logo vamos abater o cão. Este simplismo de raciocínio invoca um facilitismo recorrente: a crença cega no «BEM» e no «MAL» como forças. Ora, nem um nem outro são forças inevitáveis e opostas, pois, se o fossem, teríamos de inventar uma terceira força para desempatar a disputa. Tal como Édipo mostra e compreendeu, o mal ou o bem só existem no nosso livre-arbítrio. Assim, é sabido que os animais não têm livre-arbítrio, obedecem à sua natureza e não há naturezas boas ou más, já que estas dependem sempre da vontade e da escolha. E esta capacidade de escolha não é o mal nem o bem. Há, sim, maus usos do livre-arbítrio e más escolhas. E quando isso acontece, nasce o medo. E quando nasce o medo, abatem-se cães."

Para todos aqueles que apoiam o Zico, como eu, aqui fica a reflexão, para os outros, que são contra e até recorrem ao insulto mais suez porque à falta de melhores argumentos, aqui o deixo também para reflexão, talvez que ao lê-lo se tornem seres humanos melhores.
 

0 Comments:

Post a Comment

<< Home