Turma Formadores Certform 66

Thursday, January 24, 2013

Equivocos da democracia portuguesa - 235

Afinal, e contrariamente ao que tínhamos prognotiscado, os "media" foram mais contidos do que se esperava no tão anunciado "regresso aos mercados". Isso não significa, conforme aqui o dissemos ontem, que não foi importante este teste à credibilidade do estado poruguês. O que aqui dissemos é que era preciso descodificar o que de facto estava a acontecer face a um estardalhaço que alguns políticos por aí queriam fazer crer. E o seu comedimento diz bem que afinal não era o tempo ainda de embandeirar em arco. Dir-se-á que a operação foi um sucesso. É verdade, mas fadada ao sucesso já ela estava desde o início. E o seu sucesso deriva desde logo por ter a cobertura dum sindicato bancário. O verdadeiro teste de fogo será em Setembro. Aí se verá o que de facto pensam os mercados de Portugal. Mas neste dia também se soube que a dívida teve um aumento relativamente ao que se esperava e fixa-se agora em 120,5% do PIB! Triste recorde para quem tinha a solução para resolver todo este problema num espaço temporal de dois meses! (Será que ainda se lembram de quem o afirmou repetidas vezes na AR?) Pois não foi esse o caso, infelizmente para todos nós. E quando se tenta passar a mensagem de que tudo está a correr bem e como o previsto, vemos que as coisas parecem andar um pouco ao sabor da corrente, isto é, ao sabor de desejos ultramontanos que não os de Portugal e das suas gentes. Depois do "folclore" de ontem, vemos que a economia está estagnada, o desemprego bate recordes sobre recordes pelas piores razões, a carga fiscal avassaladora vai esmagando todos, ou melhor, a maioria, os juros da dívida vão aumentando, levando Portugal a um incumprimento porque, simplesmente, não terá capacidade para fazer face a tão enorme volume de encargos. Daí o se vir defendendo, desde à muito, a renegociação da dívida. Ela até já começou, embora duma forma pouco noticiada, quando Vítor Gaspar pediu ao Eurogrupo que fosse concedido mais tempo a Portugal. Mas falta, como ontem dizíamos, que se negoceiem os juros. Se tal não vier a acontecer, mesmo com mais tempo para liquidar a dívida, Portugal terá imensas dificuldades e a austeridade prolongar-se-á por tempo ainda não claramente definido. É certo que dentro em breve se falará duma qualquer "vitória" menor porque estão a chegar as eleições autárquicas e é preciso cativar votos. Mas a dura realidade, que é aquela que sentimos todos no dia-a-dia, essa continuará porque não se abrirão nenhumas janelas de esperança para o futuro próximo. Referímo-nos às verdadeiras janelas de esperança com consequências efetivas, não àqueles postigos que o momento político eleitoral imporá por força do seu calendário. Ontem, João Almeida, dirigente do CDS/PP, partido da coligação, não deixou de colocar o dedo na ferida ao afirmar na AR, - tal como nós ontem o tínhamos já escrito -, que "se não houver crescimento da economia, dinheiro injetado na economia, então de pouco valeu ter-mos ido aos mercados". Assim, claramente. E o tom que utilizou, como se pode verificar, era dum homem mais preocupado do que eufórico pelo momento vivido, e isso é bem sintoma daquilo que se passa nos bastidores. Afinal, só houve uma classe que ficou satisfeita com o que se passou ontem. Foram os banqueiros. Esses sempre ficam satisfeitos com estas coisas, e era ver os sorrisos rasgados e o discurso em sintonia que todos utilizavam. Eles são, de facto, os beneficiados. São os que terão condições de se financiarem no exterior, coisa que estava a ser difícil nos últimos tempos. E quando se diz que se estão a criar condições de injeção de dinheiro na economia, penso que só os ingénuos acreditarão. Os bancos têm sofrido muitas perdas - não que sejam prejuízos, mas essencialmente, menos lucros - e enquanto estes senhores não recuperarem o que perderam não haverá dinheiro injetado na economia. E o que houver, será necessariamente para os grandes colossos económicos e não tanto para as pequenas e médias empresas  ou para as micro empresas. Essas continuarão a sofrer na pele a crise, a encerrarem as portas, a lançarem mais pessoas no desemprego. Quando um certo banqueiro num momento de infelicidade (e não é o primeiro), afirma que o povo português aguenta mais austeridade com o enfático: "Ai, aguenta aguenta!", diz bem daquilo que eles pensam, só que este, por infelicidade ou ingenuidade, afirmou em público o que todos pensam no recato dos seus gabinetes. Por isso, ainda estamos muito longe da meta que temos que atingir. Com certeza que haverá quem nos venha propôr novos oásis já daqui a pouco, os mesmos que já nos tinham proposto outros que nunca chegaram. Os tempos difíceis estão, infelizmente, longe do fim. Este ano e o próximo serão anos que, na nossa ótica, serão de dificuldades acrescidas. As coisas não estão a correr tão bem quanto nos querem fazer crer. Basta olhar para os relatórios que existem, para as estatísticas que andam por aí. O maná celestial, o leite e mel a escorrer pelas paredes ainda são uma miragem. Para já, só temos as paredes nuas, bem altas e frias...

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