Equivocos da democracia portuguesa - 257
O secretismo do Conselho de Estado não é melhor do que o chamado "segredo de justiça". Ao dobrar da primeira esquina já se sabe aquilo que se passou, ou pelo menos, o essencial. Este não foi exceção. Já se sabia que o governo iria ser fortemente atacado pela política de austeridade sobre austeridade que conduziu Portugal ao abismo, ou melhor dizendo, o afundará ainda mais no abismo para o qual o empurraram. O Conselho de Estado, a acreditar naquilo que por aí anda difundido, pareceu mais um ajuste de contas com o governo do que a discussão, importante e necessária, sobre o pós-"troika", embora a achemos extemporânea. O presidente do STJ quis puxar as orelhas a Passos, o ex-presidente da República Jorge Sampaio, liderou uma verdadeira frente de contestação ao governo, no que teria sido acompanhado por outros conselheiros. Daí ao pedido de queda do governo e de eleições antecipadas foi um instante. O comunicado que foi emitido não traduziu o que se passou, como seria natural, mas aquilo que queriam que se soubesse cá fora, não deixou de ser dito. Neste país conturbado, onde a esperança já não existe, foi interessante ver Gaspar ao lado de Schauble - o ministro das finanças alemão - numa troca de mimos, uma espécie de professor que dá os parabéns ao bom aluno e que este retribui com uma subserviência total. Esta Alemanha que tem reduzido a pó muitos dos países da UE - referimo-nos essencialmente aos intervencionados - aparece com o seu manto diáfano como se de nada tivesse culpa. Até as medidas aplicadas a Chipre sobre a confiscação dos depósitos acima de 20.000 euros que foi dito que se poderiam estender à restante Europa em caso de necessidade, afinal agora diz-se que se tratou dum mal-entendido. Argumento que se utiliza quando não se tem outro para dar o dito por não dito. E é esta gente que o governo português tem como melhores amigos e guias da sua caminhada... para o abismo! Mas neste país sui-generis também muito se tem falado do prémio milionário dado a uma gestora do Banif. Até poderia ser uma coisa banal - e certamente merecido - em circunstâncias normais, mas quando um banco é intervencionado, quando lá está colocado dinheiro de todos nós, quando não há garantias de assunção dos compromissos por parte da instituição, isto parece no mínimo bizarro. Por mais merecida que seja a retribuição, é preciso atender ao momento atual do país e desse banco em particular. E que fez o representante do accionista Estado? Que se saiba nada ou muito pouco. Pelo menos não teve consequências. Contudo, o governo não hesita em inventar cortes sobre cortes sobre aqueles que mais dependentes estão e com menor capacidade de resposta, para não dizer mesmo, sem essa capacidade de todo. Referimo-nos aos reformados e pensionistas. E não pensem que aqui o Estado se comportou como um qualquer Robin dos Bosques - esse ao que se sabe roubava aos ricos para dar aos pobres - aqui o que se passa é o esbulho perpetrado pelo Estado que há muito deixou de ser pessoa de bem para se comportar como um qualquer larápio. Este é o retrato dum país sem rumo, sem destino e sem esperança que perde todos os dias o seu futuro por cada jovem formado que sai do país e esmaga o seu passado quando exerce o seu poder discricionário sobre aqueles que trabalharam uma vida e agora vêm rompido o seu contrato social duma velhice digna e tranquila. Apetece-nos dizer Portugal o teu produto interno... é bruto! Como brutos são estes políticos que te desgovernam dia após dia! E quando a dívida cresce 61 milhões de euros por dia (!), e já representa 127,3% do PIB, segundo o relatório do Banco de Portugal, não nos venham dizer que não é preciso fazer algo. E para aqueles que negam a consulta ao eleitorado em abstrato, é preciso dizer que em democracia existem sempre soluções.
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