Turma Formadores Certform 66

Saturday, November 02, 2013

Equivocos da democracia portuguesa - 297

Terminou ontem mais um debate na generalidade sobre o OE 2014. Um documento que continua a saga do empobrecimento do país e das suas gentes, em nome do pagamento duma dívida que, a menos que venha a ser renegociada, será impossível pagar. Agora liberto das suas funções governativas, Álvaro Santos Pereira afirmou que "a dívida terá que ser reescalonada em 30 ou 40 anos, caso contrário, Portugal não a poderá liquidar". Assim, singelamente, o ex-ministro da economia do governo ultraliberal de Passos Coelho, vem dizer aquilo que muita gente já vem afirmando há já muito tempo. Daí que este OE 2014 seja um documento que para além de continuar com o empobrecimento generalizado do país, nada mais trás de novo. Agora que o país está afundado num abismo - por mais que o neguem os governantes, por alguns sinais infelizmente conjunturais, que vão aparecendo, - é que o executivo se lembrou do PS. (Já agora, convém dizer que estes sinais de pretensa melhoria foram induzidos, ironicamente pelos chumbos do TC. Que fez com que crescesse a procura, e a economia só crescerá pelo aumento desta). Ostracizando este como todos os outros partidos da oposição, este governo ultraliberal, achando que se bastava a si próprio, colocou tudo e todos à margem. Rapidamente verificou que não poderia continuar com esta saga sozinho e vem clamar pelo consenso (leia-se apoio) do PS para subscrever estas políticas. Mesmo assim, e porque os velhos hábitos não se perdem rapidamente, ao mesmo tempo que lhe pedia a mão, ridicularizava as medidas que este apresentava, como ainda ontem foi visível na AR. Na confusão reinante, o governo ultraliberal ainda tentou meter no mesmo saco o OE 2014 e a pretensa reforma do Estado. Coisa que não conseguiu, porque o documento tardio, apenas reflete um emaranhado de generalidades que Portas conseguiu arrebanhar, mais baseado em artigos de opinião do que em bases bem fundamentadas. Manuela Ferreira Leite chamou-lhe um "documento inócuo e sem sentido", o que é de todo verdade, dada a expectativa criada, que levou a que este documento fosse atrasado na sua execução, apenas e só, porque era útil que assim acontecesse para que o executivo pusesse em prática as medidas mais avassaladoras. E a confusão é tal, que levou a que Ribeiro e Castro fizesse um discurso alinhadíssimo com o governo - ele que até tem mostrado a sua discordância com ele - para que a quando da votação vir apresentar uma declaração de voto, sendo seguido pelos deputados da Madeira! Mais coerente foi o deputado do CDS-Madeira que votou contra, tal como tinha acontecido no ano transato. Mas o mais insólito estava ainda para vir. Não nos referimos de todo ao burburinho nas galerias, coisa que até começa a ser habitual, mas na aprovação do documento que não foi sublinhado por uma única palma! Até parece que os deputados da maioria tinham vergonha da sua aprovação e, se calhar, até foi esse o caso. Mais um OE que continua na senda da destruição de direitos, na destruição do estado social, na destruição dos serviços públicos, como o caso da saúde e da educação, que está a transferir-se, despudoradamente, para o setor privado. Apetece-nos aqui citar, adaptando, as palavras de Hemingway,  "por quem os sinos dobram meus amigos. Não vos apoquenteis, são por vós".

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