Turma Formadores Certform 66

Sunday, September 28, 2014

A poesia de Vitorino Nemésio I - "Retrato"

Hoje deu-me para a poesia. Será do tempo chocho. Será o meu Outono de romantismo. Eu sei lá! Vai daí lembrei-me de mergulhar na poesia de Vitorino Nemésio. Para começar, trago-vos "Retrato" uma espécie de visão que Nemésio tinha sobre si próprio, inserido no livro "Nem toda a noite a vida" (1953).

Um figura açoreana que viveu numa época onde outros açoreanos de letras fizeram escola. O canto da ilhas, onde "há mais mar que terra" como dizia Nemésio, que elevaram a poesia e a literatura portuguesa e que hoje estão tão esquecidos, arredados dos livros escolares. Como tratamos mal os nossos.


RETRATO

Cruel como os Assírios,
Lânguido como os Persas,
Entre estrelas e círios
Cristão só nas conversas.

Árabe no sossego,
Africano no ardor;
No corpo, Grego, Grego!
Homem, seja onde for.

Romano na ambição,
Oriental no ardil,
Latino na paixão,
Europeu por subtil:

Homem sou, homem só
(Pascal: "nem anjo nem bruto"):
Cristãmente, do pó
Me levanto impoluto.

É caso para dizer que Nemésio se tinha numa excelente posição, ele que para além de poeta e romancista, foi um homem que viu a sua vida povoada de amores. Poesia a recordar deste grande escritor que tem em "Mau Tempo no Canal" a sua obra maior. Será que ainda se recordam dos seus programas de televisão "Se bem me lembro!" que a RTP de antanho passou ainda a preto e branco? Pois ele aqui está em toda a sua expressão.

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