Turma Formadores Certform 66

Monday, September 22, 2014

Equivocos da democracia portuguesa - 234

A palavra dada logo desmentida, a informação veiculada logo desdita, o compromisso celebrado logo adiado, fazem parte duma falta de ética que vai corroendo a nossa democracia. Já por diversas vezes vimos alertando para isso, mas há sempre algo de novo a lembrar-nos que o tecido está a ser corroído, senão mesmo já apodrecido. Se muitos exemplos do que aqui deixamos poderiam ser enumerados, escolhemos hoje o tema do aumento do salário mínimo nacional por ser de grande acuidade nos tempos que vivemos. Foi congelado em 2011 e sabe-se a razão por quê. Podemos não estar de acordo mas compreendemos as razões, desde logo, a urgência em que Portugal se encontrava. Mas tal não poderia ser prolongado demasiado no tempo porque quando as classes mais baixas vissem a quebra abrupta do seu rendimento, logo deixariam de comprar, o que iria ajudar a uma certa estagnação económica. Se a medida foi saudade pelas entidades patronais, os sindicatos afrontaram-na. No fundo, cada um cumpriu o seu papel no espectro daquilo que se lhes exigia. Assim, desde há algum tempo se vem falando no seu ajuste, numa tentativa de repor algum poder de compra, e dar mais algum alento à economia. O governo foi sempre adiando justificando com isto e com aquilo e agora, com eleições ao dobrar da esquina, não deixa de apoiar a medida embora fazendo-a deslizar no tempo o mais possível para próximo do futuro ato eleitoral. Os sindicatos vão aumentando o tom do seu discurso dentro daquilo que se espera de tais organizações. As entidades patronais também, mas com um jogo de cintura lamentável. Se desde à muito dizem que se devia aumentar o salário mínimo nacional, quando essa inevitabilidade se começou a colocar com mais afinco na mesa negocial, o discurso foi-se enviesando. Primeiro é a discussão do montante, depois é a manutenção de cortes nos feriados e nas horas extras para o próximo ano, com a justificação de que as empresas não estão preparadas para tal embate. Já tinham conseguido o adiamento em Junho último para o fim do ano, agora acham que até final do próximo ano se deve manter a situação. São estas atitudes que descredibilizam a classe empresarial. Porque na sua ganância de mais e mais, não percebem que se estão a colocar de fora dum tempo em que a situação se colocará com mais força. E já se vai tarde para isto, o aumento para 500 euros era devido à muito tempo, hoje colocá-lo a esse nível vem ajudar, mas não repor uma das assimetrias mais incríveis que se fizeram. E quando muitos empresários já espumam com a antecipação daquilo que irá acontecer inevitavelmente, outros até acham que se poderia ir mais longe, como o presidente da Confederação do Comércio (CCP). A política dos salários baixos não resolve nenhum problema de produtividade, como muitos defendem, ou até de competitividade. (A menos que estejam a pensar no formato chinês de contratação). Se os trabalhadores não estão satisfeitos, eles não se esforçarão, a produtividade não será uma realidade. Até alguns empresários, - poucos na realidade -, já o afirmaram. Afinal são as teses de Keynes que andam por aí e que alguns pretende fazer de conta que não vêem. Dada a realidade económica atual o aumento deve ir para além dos 500 euros, porque há folga para isso e, sobretudo, porque só assim se colocará alguma justiça ao nível daqueles que têm um nível de rendimento tão baixo. E não nos falem em problemas na competitividade. As empresas portuguesas, na sua maioria, são mal geridas por gente impreparada apenas visando o lucro o maior possível. Conhecemos bem a realidade nacional, bem como, a realidade internacional. Vemos portugueses a serem altamente produtivos em empresas estrangeiras quando cá parecem não o ser. E afinal de quem é a culpa? Do salário mínimo nacional? Da falta de formação dos trabalhadores? Ou haverá outras razões bem mais complexas para as quais não queremos atender?

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