Turma Formadores Certform 66

Wednesday, September 03, 2014

As "cruzadas" do Oriente

O mundo está estupefacto com a barbárie que todos os dias nos entre portas adentro. O conflito no Médio Oriente, a criação dum califado de inspiração islâmica radical e a participação crescente de muitos jovens ocidentais nesta demanda, não nos pode deixar tranquilos. Mas analisemos com mais detalhe esta situação. A ideia dum radicalismo islamita é condenável, tal qual o deveria ter sido, há alguns século atrás as "cruzadas". Em nome dum Deus - que deveria representar amor e paz - levou-se a morte bárbara e infame a tanta gente, apenas e só porque acreditavam em Deus duma outra forma. (Sim, porque acho que a crença no Além, em algo superior, é comum ao ser humano, diferindo apenas e só a forma como o fazemos. Daí as diferenças. Daí os conflitos). O assunto das "cruzadas" do passado contra os muçulmanos foi sempre um assunto muito polémico e nunca resolvido à luz da História. Incentivado pelo papado de então, vemos hoje com ironia, esse mesmo papado a apelar à paz. (Lembro aqui uma parte duma oração ordenada por Pio XI a 11 de Dezembro de 1925 que diz assim: "... Sede rei de todos aqueles que estão ainda sepultados nas trevas da idolatria e do islamismo..." Não será seguramente assim que se constrói o diálogo entre civilizações. E isto foi a apenas 89 anos!). Sei que os tempos são outros, mas talvez para esses povos seja ainda - fruto do seu atraso a todos os níveis - a Idade Média de que nos libertamos à muito. Quando ouço alguns "jihadistas" - será que eles sabem o que isso verdadeiramente é? - a falar no Al-andaluz, vêm-me à memória esses equívocos históricos nunca resolvidos. Gente de cariz fascizante - senão mesmo fascista - arrebanha jovens em nome duma causa que eles nem conhecem, apenas contando com o voluntarismo próprio da idade, para irem servir causas tão abjetas. Agora ampliado com o conhecimento que se vai tendo de muitos jovens ocidentais - alguns portugueses ao que se sabe - que se deixam arrastar por causas que nem sequer são as suas. Que os leva a isso? Ao que se sabe alguns deles são até jovens com boa formação académica que de um dia para o outro têm esta "revelação", não divina como julgam, mas assediados por gente sem escrúpulos para quem o valor da vida não existe. Dir-se-á que noutros tempos também os "cruzados" eram oriundos de várias partes da Europa. É verdade. Mas a fé num Deus cristão superior aos outros, talvez uno, levava a que essas gentes tão diversas tivessem uma causa comum. Os islamitas poderão pensar o mesmo. Já dos jovens ocidentais é mais difícil entender. Porque muitos são cultos ao que parece, porque vivem num mundo mais evoluído, não são fruto duma qualquer marginalidade social, estão integrados nas suas comunidades, e tudo isto só por si, é fator para uma enorme interrogação. Afinal o que é isto a que estamos a assistir? Sabe-se que estes radicais estão a ser apoiados por gente do Qatar e da Arábia Saudita. Não quer dizer que sejam os seus governantes, mas é de lá que vem o dinheiro. O mais estranho é que esses países tanto contacto buscam com o Ocidente, apesar do dinheiro do petróleo ou talvez por isso, o que parece ser uma terrível contradição. O Qatar é um bom exemplo disso mesmo, duma abertura ao Ocidente até para a realização de eventos desportivos. Face a isto, o Ocidente tem que estar cada vez mais atento. A intervenção americana no Iraque abriu uma espécie de "caixa de Pandora" que agora se tornou incontrolável. Saddam era um ditador, mas foi um produto do ocidente. Khadaffi era um ditador mas também era um produto do ocidente. Ainda me recordo de ele afirmar que era necessário que ele se mantivesse no poder, caso contrário a Europa ir-se-ia arrepender. (Se já se veio a arrepender ou não, nunca o saberemos, porque estas coisas não se dizem em público mesmo que se sintam). al-Assad na Síria é outro produto do ocidente. Parece que o Ocidente não percebeu que ao engendrar estas personagens que a geopolítica impunha estava a criar os seus próprios monstros, as suas assombrações, os seus próprios Frankenstein's que deixaram de poder controlar. Daí ao reviver das "cruzadas" foi um instante. A "Primavera árabe" trazia no seu seio o ardor do demónio, para o qual o mundo está agora a despertar. O bárbaro assassinato de dois jornalistas americanos foi uma monstruosidade, mas parece que só assim, o Ocidente e, sobretudo, os EUA acordassem do seu torpor. Que ele, refiro-me ao primeiro, tenha sido feito por um ocidental é algo que nos deve levar a refletir. Em nome da democracia não deve ser tudo permitido, caso contrário, estamos a criar condições para a sua destruição. A falta de controle dos "curriculum" escolares nas escolas árabes do ocidente, em nome duma certa liberdade religiosa, deu nisto. E a democracia não pode deixar que se gere no seu seio condições para a sua destruição, invocando o tema da liberdade. De que nos serve a liberdade se não existir democracia? Este absurdo paradoxo parece que ainda não colheu no seu seio a devida nota. Como é costume dizer-se, a História repete-se, mas nunca da mesma maneira e, seguramente, não com os mesmos protagonistas. Mas repete-se e aí está a resposta. Curiosamente, já Nostradamus tinha falado nesta situação. Mesmo para aqueles que não gostam destas coisas do hermetismo, seria bom darem uma boa leitura sobre este tema. Talvez fiquem surpreendidos. Não sei se isso se prende com adivinhação, mas seguramente prende-se com o ciclo repetitivo da História que ao que parece Nostradamus bem conhecia. (Já agora, e no mesmo sentido, a Bíblia no seu Livro do Apocalipse ou da Revelação). O Ocidente impôs o estado de Israel no fim da II Guerra Mundial. O Oriente está a impor um califado no século XXI. No fundo os terroristas de hoje são os parceiros políticos amanhã. A História está cheia destes exemplos. (Ela - a História - é sempre escrita pelos vencedores, não nos esqueçamos disso). O que ainda ninguém foi capaz de fazer foi o diálogo civilizacional que se impõe. É urgente fazê-lo. No fundo somos tão diferentes e definitivamente tão iguais. O que é preciso é que olhemos uns para os outros sem reservas e de coração aberto. Percebamos os pontos de vista duns e de outros sem que queiramos impor o nosso como o inevitavelmente mais correto. Até que isso aconteça os homens matam-se uns aos outros, naquilo que julgam ser o louvor ao seu Deus, - seja lá Ele qual for -, semeando o caos, o horror e o ódio que vai dividindo o mundo, nesta caminhada de demanda de poder, de aniquilação do outro, de saque de riquezas alheias, que nos está a conduzir à autodestruição.

0 Comments:

Post a Comment

<< Home