A guerra dos tronos (aliás, dos António's)
De peripécia em peripécia vimos assistindo, neste Verão envergonhado, à guerra que vem assolando o Partido Socialista (PS). Guerra incompreensível que só a ambição desmedida pode germinar. Gostemos ou não de Seguro, ele é o líder eleito, tem sido um líder vencedor, e não deixa de ser bizarro que depois de duas eleições ganhadoras, seja desafiado por um camarada de partido que, até então, se remeteu ao silêncio quando se percorria os caminhos sempre difíceis da oposição. Agora, a poucos meses das eleições legislativas - até porque pensamos que elas serão antecipadas pelo facto que deriva do calendário eleitoral - apareça alguém que na sua ambição desmedida de ser, (mais do que líder do partido), ser o futuro primeiro-ministro, não tenha pejo em colocar o seu próprio partido em dificuldades nas sondagens, onde à bem pouco liderava com vantagem confortável. Como já aqui afirmamos por diversas vezes, Costa até poderá ser um líder melhor para o PS, mais ajustado aos tempos que correm, mas isso não significa que passe por cima de tudo e de todos, com a sua corte pós-socrática a acompanhá-lo. Porque os tempos mudam e as vontades também, para usar a imagem do poeta, talvez o vislumbre de uma vitória fácil, com nomes que já apareceram em anteriores governos, possa dar a Costa a ilusão da vitória. Pensamos ser um erro essas vitórias antecipadas antes de se travarem os grandes combates. Mas também sabemos que se fossemos eleitores PS iríamos pensar maduramente em quem votar. Normalmente, não costumamos apoiar aqueles que defendem a traição como estratégia, o apunhalar covarde pelas costas como "modus operandi". Quem assim procede para com um camarada de partido, quiçá até um amigo, como procederá perante o país e o cidadão anónimo? É da História que quem tem as mãos sujas de sangue, normalmente, não as lava se não com mais sangue. E que exemplos terríveis a História nos dá, não só a deste país, mas de outros que geraram tais figuras no seu seio. É certo que ainda não houve debates entre os dois - porquê, amigo Costa? - mas quando os houver, se vão alguma vez existir, gostaremos de ver o que daí sairá. Porque o próximo governo, seja lá ele qual for, e chefiado por quem for, não poderá alterar em demasia o rumo que se tem seguido. Não porque não o queira mas porque este governo atual tem estado demasiado tempo em funções e quando sair deixará um lastro que não se pode alterar do dia para a noite, e haverá casos até, em que não se poderão alterar diretrizes já assumidas. Por exemplo, o caso dos impostos. Todos achamos que a carga tributária é demasiada, mas o próximo governo terá dificuldade em fugir a esta sina por condicionantes de estratégia, que podem passar por Portugal, mas que também passam, seguramente, por outras condicionantes de índole internacional. Daí que a simples alteração do governo, pode não mudar nada, ou quando muito, mudará muito pouco, face ao caminho que percorremos nestes últimos três anos. Seguro, embora olhando o país com outro ângulo de visão, poderá representar uma certa continuidade face ao que já foi dizendo, embora com alterações aqui e ali, ajustes derivados da visão ideológica das questões. Costa, que assume um discurso mais radical, tem com certeza a noção que entre a sua "praxis" e o seu discurso, vai a distância dum "Rubicão", mas a estratégia dos votos leva a distorcer o inevitável, porque a ambição é mais do que a sinceridade. Se dentro do PS as coisas estão como estão, como será na governação? A pergunta é oportuna porque deste confronto sairá um PS fortemente dividido, seja lá quem for o vencedor. E depois teremos todos que esperar mais um ou mais ciclos políticos até que apareça um verdadeiro líder capaz de aglutinar as hostes ora desavindas. Mas até lá, há um país para governar. Há gente ansiosa de mudar de rumo na expectativa - talvez vã - de melhores dias. No entretanto, vamos assistindo a esta guerra dos tronos (aliás, dos António's), que diz bem do que poderemos esperar no futuro. Esta é a democracia equivocada - se é que vivemos ainda em democracia - onde o gesto de votar de quatro em quatro anos parece satisfazer toda a gente. Pobre democracia esta que assim pensa. A democracia é, - deve ser -, muito mais do que isto. Temos a democracia que merecemos e que desvirtuamos, temos os partidos que apoiamos e que geramos, temos os líderes que apoiamos e que idolatramos. Entretanto, os equívocos continuam. E a guerra dos tronos (aliás, dos António's) também, nestes vários episódios que prometem muitos mais, talvez até, temporadas futuras.
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