Turma Formadores Certform 66

Tuesday, August 12, 2014

Um país que é uma mentira

Um país de mentira e de mentiras é a maneira como nos apetece defini-lo depois do que temos vindo a assistir nas últimas semanas. Um país que é uma mentira. Neste país destruído, aniquilado, em nome duma qualquer nova ordem mundial, - económica e não só -, os equívocos não param de acontecer, onde a mentira, ocultação intencional ou não, estão cada vez mais, na ordem do dia. Na semana passada falamos na atitude do BdP face ao caso BES. Depois vimos a intervenção do seu governador, Carlos Costas, sobre o mesmo tema. Afinal, parece que tudo não passou duma refinada mentira. Hoje sabe-se que a intervenção do BdP foi praticamente motivada pela decisão do BCE em se fazer pagar do apoio concedido ao BES. Decisão tomada a 1 de Agosto - sexta-feira - e intervenção do BdP no dia 3 - domingo. Mas também ficamos a saber que, depois de todo este ruído provocado pela queda do império da família Espírito Santo, que afinal o BdP terá emprestado cerca de 3,5 mil milhões de euros ao BES, depois de já saber que algo de muito errado existia intramuros desta instituição financeira. E isto só se soube porque ontem um gabinete de advogados o divulgou depois de ver o documento espelhado na página oficial do banco central. Dirão alguns, que se é assim, o BdP afinal tinha tornado público o documento. Esse documento está inserido no registo de propriedade e nunca tinha até ontem sido divulgado por ninguém, nem a ele foi feita qualquer referência oficial. Quem não deve não teme diz o povo, e tal asserção parece não se aplicar de todo à autoridade financeira portuguesa. A Bolsa anda para lá e para cá, e só agora decidiu afastar as ações do BES do mercado. (Afinal não tinha outra solução visto o BES que conhecemos já não existir, mas sim parte dele - o "bad bank" - onde ficaram os produtos que se consideram "tóxicos" e como tal não ser possível que as suas ações continuassem a ser transacionadas no mercado quando o seu valor ficou a zeros). Mas não se pense que é só no meio financeiro que as coisas estão mal. Na vertente política não estão melhor. Sobre ainda o caso BES, o ministério das Finanças nada diz, dando a ideia de que não é nada com ele. Nada mais errado, porque se algo correr mal, serão sempre os mesmos a arcar com as consequências, ou seja, os contribuintes. (O mesmo se passará se o empréstimo feito pelo BdP ao BES não for pago, embora este diga que tem garantias, mas sem especificar quais). Mas hoje também se sabe que a dívida não pára de crescer - o relatório do Tribunal de Contas é arrasador - dando a ideia de que os cortes feitos nos salários e nas pensões não chegou para cobrir a despesa do Estado. Mais uma anomalia dum governo que diz que tudo está bem, que agora é que é, que só os que não querem ver é que o negam, leia-se a oposição. Mas a realidade mostra que não é assim, bem pelo contrário. Ontem veio a saber-se que mais de meio milhão de jovens já emigraram nos últimos anos. Aqui também é visível que a tão propalada recuperação do trabalho não passa duma falácia. (Já por diversas vezes chamamos a atenção de que quando se fala em criação de postos de trabalho, deve-se analisar a criação líquida, isto é, entre o emprego criado e o destruído. E não se pode deixar de lado os imensos desempregados que estão em "formação", de que nada lhes irá servir, mas assim desaparecendo das estatísticas do desemprego). Ainda há dias, um responsável da UE dizia que, a Europa devia estar atenta e vigilante para o que ainda estava a acontece no seu seio. Depois, aproveitando o caso BES, Juncker dizia que Portugal era o paradigma do país com problemas ainda por resolver, indo até mais longe, dizendo que o nosso país tinha deficiências que não existiam noutros, e dava o exemplo da Grécia que, segundo ele, estaria bem melhor e num caminho mais sustentável. De confusão em confusão, de equívoco em equívoco, de mentira em mentira, tudo serve para dar a ilusão de que tudo está a correr bem. Afinal não é assim, bem longe disso. É a Europa que o diz - e logo pela boca dum homem que é da mesma família política da maioria - são os portugueses que o sentem diariamente na pele, quando assistem ao seu degradar do nível de vida, empurrando as famílias para cada vez uma maior pobreza. Depois, e em nome do ajustamento, são cortados a esmo os subsídios, as pensões, os salários, - que afinal nada resolveram -, e empurrando esta nova, e cada vez maior classe de pobres, para os braços das instituições de solidariedade privadas ou da Igreja. Um descartar como Pilatos da função social do Estado que estes políticos tanto ajudaram a destruir. No fundo, servem-nos mentiras diariamente. Vivemos em mentira, a mesma mentira que se nos pega à pele como sarna, e que até pode passar por verdade, à força de tantas vezes ser repetida. No entretanto, os decisores políticos estão a banhos. Nada disto parece dizer-lhes respeito. Não há uma satisfação aos portugueses. Talvez seja melhor assim porque correríamos o risco de levar com outra mentira. Olhemos para onde olhemos apenas vislumbramos mentiras. E quantas ainda estarão por aí ocultadas? Este país passou a ser uma país de mentiras. Este regime passou a ser uma mentira. Este país é, ele mesmo, uma mentira.

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