Turma Formadores Certform 66

Wednesday, August 13, 2014

Portugal entra em deflação

Tenho escrito muito sobre este tema e as consequências gravosas para a economia nacional, que é como quem diz, para todos nós. Não compreendo o silêncio que tem havido sobre a discussão deste tema, mas agora É oficial: Portugal está em deflação e isso não é uma boa notícia. Portugal está em deflação ou seja, os preços estão a descer quando comparado com os praticados há um ano e não a subir como é habitual. A taxa de variação média anual do índice de preços no consumidor entrou em valores negativos (-0,2%) pela primeira vez desde que em 2009 o país registou uma variação negativa dos preços de 0,8%. Este valor médio anual surge depois de seis meses consecutivos com taxas de variação homóloga negativas e depois de no último mês de que há registo (julho de 2014) a queda se ter acentuado significativamente: passou de -0,4% em junho para -0,9% em julho. Esta evolução apesar de mais acentuada em Portugal não é contrária ao que se vai registando na União Monetária onde predominam países com inflação muita baixa ou mesmo em deflação. A previsão para a taxa de inflação de 2014 será assim revista em baixa devendo ser inferior a zero no final do ano. A existência de deflação não é um cenário que deva merecer particular regozijo podendo inclusive, se se prolongar no tempo, conduzir a uma forte crise económica. Note-se que todas as dívidas definidas num valor monetário fixo (como a dívida pública ou os créditos à habitação) têm tendência a ser mais difíceis de suportar pois apesar de a dívida continuar a representar o mesmo valor em euros, os rendimentos usados para a pagar têm tendência a reagir em baixa à descida prolongada dos preços fazendo com que o peso no orçamento nacional, empresarial e familiar seja maior. No limite, a deflação pode conduzir ao incumprimento do pagamento da dívida pois a deflação tende a funcionar como um imposto adicional sobre os devedores. O inverso pode acontecer com os credores, se considerados isoladamente do sistema económico em que se inserem. Por exemplo, um depósito a prazo a taxa fixa contratado há poucos meses por um prazo longo poderá no final revelar-se uma poupança com uma taxa real de juro interessante pois apesar de o juro nominal poder ser baixo, como a inflação é negativa, essa evolução dos preços acresce ao aumento do poder de compra implícito no juro recebido. Ou seja ao juro real de, por exemplo, 2% depois de impostos há que somar a taxa de deflação o que faz subir o rendimento.  No fundo sucede o oposto face a uma situação de inflação positiva – crescimento generalizado dos preços. Este é um dos casos em que ter o dinheiro no colchão rende juros. Há um incentivo para que o dinheiro fique “parado”, algo que é contrário à existência de inflação. Se o cenário de deflação for tido como duradouro (o que parece ser o caso presente) as consequências para toda a economia não deverão deixar muitos incólumes pois podem-se instalar as características mais nefasta geralmente associadas este fenómeno como seja uma tendência para adiar sucessivamente o consumo. Porquê? Porque os consumidores se souberem que “amanhã” os preços estão mais baixos tendem a adiar ao máximo todas as compras adiáveis de modo a efetuá-las ao menor custo possível. A deflação pode funcionar como um letreiro de descontos permanentes em que se sabe que no dia seguinte o desconto será maior. Este comportamento, quando instalado, pode provocar uma retração contínua da capacidade produtiva contribuindo para falências, perda de emprego e agravamento das pressões para que ocorra uma descida de preço. Os salários como preço do trabalho que são sofrerão também, a prazo, igual pressão (via desemprego e redução das componentes variáveis) agravando ainda mais  a espiral de descida de preços. A deflação permanente não é do ponto de vista económico preferível a um cenário de hiperinflação pelo menos no sentido em que ambos são difíceis de contrariar e têm consequências muito negativas para a economia e para a população. Segundo o Instituto Nacional de Estatística (INE) de quem é a autoria do gráfico aqui reproduzido e que compila esta informação, as principais conclusões quanto às classe de despesa que estão a ver os preços a descer (e a subir) são as seguintes: “(…) Entre as classes com contribuições negativas para a variação homóloga do Índice de Preços no Consumidor (IPC) destaca-se a dos Produtos alimentares e bebidas não alcoólicas (classe 1), com uma variação homóloga de -3,1% em julho (-2,5% no mês anterior). A classe do Vestuário e calçado (classe 3) também teve um contributo relevante para a variação homóloga do IPC, em resultado da diminuição mais acentuada de preços verificada na entrada do período de saldos, com uma taxa de variação homóloga de -7,5% (-1,5% em junho de 2014). Nas classes com contribuições positivas para a variação homóloga do IPC salienta-se a da Habitação, água, eletricidade, gás e outros combustíveis (classe 4), com uma variação homóloga de 2,2% (2,3% em junho), influenciada em grande medida pelo sub-subgrupo das Rendas efetivas pagas por inquilinos de residências principais. É ainda de referir ocontributo positivo da classe das Bebidas alcoólicas e tabaco (classe 2), com uma variação homóloga de 3,1% em julho (2,9% no mês anterior). (…)” E agora? Vamos continuar a meter a cabeça na areia e pensar que não aconteceu nada? Esperemos para ver o que o futuro nos dirá.

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