Turma Formadores Certform 66

Monday, August 25, 2014

A Tuxa chegou ao fim

Chegou ao fim! Eram 17,09 horas do dia de hoje. Nesta caminhada para a morte - talvez para quem sofre como ela sofreu seja a libertação - a minha querida Tuxa deixou-nos. (Quis ir morrer no seu relvado predileto onde passou muitas horas deitada ao sol. Desceu sozinha as escadas e foi para lá. Olhou para mim e para a minha mulher, olhou para o Nicolau que ela ajudou a criar desde bebé e partiu. De lá partiu para a eternidade. Lá será sepultada nesse mesmo local, junto a um pequeno lago onde ela gostava de ir beber água). Mais uma ferida aberta no nosso coração, já chagado por tantos que foram partindo. Partida que nunca aceitamos, sobretudo quando os resgatamos à rua, tentamos dar-lhe uma vida melhor com carinho e amor, mas nunca pensamos que o inexorável fim há-de um dia chegar. A Tuxa foi uma sofredora na vida. Abandonada ainda jovem, em Águas Santas - mesmo em frente ao prédio onde então vivíamos - a minha mulher ainda presenciou esse momento. Um jovem andou por ali com ela pela trela, parecia que algo de estranho se passava. Ele queria libertá-la mas estava a ser difícil. (Sabe-se lá a razão porque o fez, talvez imposição de alguém). Mas libertou-a e afastou-se. Por isso, a minha mulher que assistiu a tudo, nunca a perdeu de vista. Andou por ali cerca de dois meses. Não a recolhemos antes porque já tínhamos uma outra cadela abandonada e no prédio onde vivíamos os animais não eram bem vindos. Mas ao fim desse tempo ela veio. Era um sábado ao início da tarde, quando a fomos procurar. Logo veio ter connosco porque já lhe dávamos comida à algum tempo. Passamos-lhe um lenço ao pescoço e ela pareceu que entendeu a nossa intenção e logo nos acompanhou. Nesse mesmo dia levámo-la ao veterinário. Tinha muitos problemas de pele e não só. Estava grávida. Teve que ser operada logo e depois seguiu-se um tratamento de cerca de um ano. Tinha um problema nas patas que teve que ser tratado. Éramos nós que lhe fazíamos os tratamentos. Ela chorava só de ver os preparativos. Mas tinha que ser. Ao fim dum ano estava curada. Começou a brincar e a ser feliz com a cadela que já tínhamos em casa e que morreria pouco depois. Veio a seguir o Nicolau - abandonado com três semanas de vida - mais uma vez à nossa porta. Ela acarinhou-o, criou-o, educou-o. Sempre muito carinhosa e maternal. Também connosco partilhava esse amor e carinho de quem reconhece que lhe demos uma segunda oportunidade. (Os cães abandonados são os melhores cães que há, os mais carinhosos e reconhecidos para com os seus donos). Depois mudá-mo-nos para a moradia em que hoje vivemos. Tinha muito mais espaço e três novas companheiras para a brincadeira que tinham sido de minha mãe, que ela me deixou quando morreu. A Tuxa começou a ser verdadeiramente uma cadela feliz. Sempre maternal e atenta a tudo. Anos mais tarde entrou na nossa casa um outro ser, pequeno e frágil, a nossa afilhada. E foi vê-la com o maior desvelo e carinho a tratar dela. Sempre alerta para os perigos em que uma criança tão pequena se coloca. (Publiquei muitas fotos e vídeos onde esta relação era clara). Esta afinidade era mútua. A relação ficou até ao fim. Apesar da doença terrível - um cancro que quando detetado já infestava todo o seu corpo -, apesar do cheiro pestilento que foi aumentando com o tempo à medida que a doença evoluía, apesar do aspeto desagradável à vista - como podem testemunhar nas últimas fotos que publiquei - em que um tumor fez a sua cínica, silenciosa e devastadora aparição no olho esquerdo da Tuxa, com tumores na cabeça, pescoço e em muitas outras partes do corpo, apesar deste cenário horrível, a Tuxa sempre contou com o amor e carinho da minha afilhada. Uma já velha, a outra ainda uma criança, mas ambas irmanadas no amor imenso e carinho que a simplicidade e a inocência criam, apesar de tudo isto, a minha afilhada não deixou de a ter como amiga, e dedicar-lhe a sua inocente atenção. Por que as crianças são grandes em gestos, por que os animais são puros na essência. Agora tudo isto terminou. (Mas ainda resistiu cerca de um ano e meio depois da morte anunciada pelos veterinários para o mês seguinte. Como uma guerreira lutou sempre até ao fim). A Tuxa está a percorrer a ponte de arco-íris para um paraíso em que acredito, onde estes animais encontrem a felicidade que muitos viram negada na sua caminhada terrena. Quinze anos depois de ter vindo para a nossa companhia - teria nascido em Janeiro de 1999, data estimada pelos veterinários - chegou a hora do adeus. Quero acreditar que seja apenas um até já! De lágrimas a correr pela face, de coração partido pela dor, aqui estamos para lhe dar o último repouso. Em  nossa casa onde foi feliz, junto dos outros seus companheiros que iluminaram e enriqueceram a nossa vida. Depois restam as lágrimas, a dor, o sofrimento da perda, a memória. Apenas minorado porque achamos que esta morte é também a libertação face ao sofrimento duma vida. Sempre sofredora, a Tuxa contou connosco, como sempre contam connosco estes nossos companheiros de jornada que nunca deixamos para trás. (Até de férias abdicamos para podermos tratar deles). Mas foi feliz. Sempre se sentiu muito feliz e alegre. Queremos acreditar que finalmente está bem, que finalmente está em paz. Esse é o bálsamo para o sofrimento porque estamos a passar. Esta é a hora mais difícil. Esta é a hora do adeus, talvez seja apenas um até breve. Descansa em paz, Tuxa! Nunca te esqueceremos pelo que sempre foste e por tudo o que nos deste. Pode parecer estranha esta homenagem a muita gente, mas não o é para nós, e não deve sê-lo para todos aqueles que vêm nestes nobres animais aquilo que de bom existe nesta vida.

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