Turma Formadores Certform 66

Saturday, October 11, 2014

Sem abrigo uma questão social - Para refletir

"Nossa sincera homenagem a todos Joaquins deste mundo ! Foi esta madrugada em plena baixa de Lisboa que morreu Joaquim. Não era actor nem artista. Não era famoso, nem conhecido. Não tinha fama. Era só o Joaquim. Era apenas um homem que tinha passado pela guerra, que tinha sido abandonado pela nação e pelo povo pelo qual lutou. Um homem cuja vida era passada entre um embrulho de papel e uma resma de jornais sendo estes o cobertor que noite após noite abraçava o seu corpo cansado das cicatrizes dos homens e das mulheres que por ele passavam e nem um olhar lhe dirigiam. Era o Joaquim. Homem que não se achava merecedor de uma cama quente, de um duche tranquilizante, de um prato de sopa que lhe apazigua-se o rato que amiúde lhe roía o estômago. Era o Joaquim de botelha na mão, carro do mercado nas unhas com o qual transportava os seus bens mais preciosos. O Joaquim... O homem de sobretudo roto, barba comprida entrançada pela sujidade do ar, rugas profundas resultado de uma vida cansada, desnorteada, carente de um ombro amigo, de uma palavra de alento, de um sorriso infantil. Morreu o Joaquim. Aquele que sorria para todos sem troco, que brincava aos loucos com plena consciência do seu estado de miséria, aquele cujo os seres passavam e diziam: "- Este é que a leva bem sem preocupações." Sim... Foi esse o Joaquim que morreu. O Joaquim que tu, eu e ninguém quer ser mas que ninguém está livre de lá chegar. Morreu o Joaquim. Sem honras, sem reconhecimento. Profundamente esquecido por uma sociedade hipócrita e egoísta de falsos principais apregoados à vista de todos e olvidados em privado. Morreu o Joaquim... Aquele que um dia pode vir a ser qualquer um de nós. Morreu e foi enterrado em pleno silencio." (Dinis Portugal Neto). Palavras para quê, só iriam incomodar o silêncio, a paz do Joaquim. Daquele que ignoramos, Daquele de quem viramos a cara ao passar com a consciência a acusar-nos. Daquele que poderia ser um de nós. Palavras para quê, se ele apenas quer a paz e a tranquilidade que não teve em vida. Daquele que apenas quer uma sepultura para lhe aconchegar o corpo masserado. Palavras para què, se não as tivemos em vida do Joaquim, de que serviriam agora. Ele apenas queria um olhar amigo, uma palavra de compreensão. Tu, eu, e todos os outros não lha demos. Covardemente o ignoramos. Que palavras teríamos agora para lhe dizer, nós que o ostracizamos, que o repudiamos. Não conhecia o Joaquim, mas conheço outros Joaquins. Infelizmente existem muitos Joaquins no mundo. E no mundo existem ainda mais pessoas que covardemente olham para o lado para que as suas consciências não os acusem. Palavras para quê, afinal?...

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