Incongruências
Já nos vamos habituando a mudanças de discurso neste governo estouvado. Mas confesso que tenho algumas dificuldades em lidar com algumas delas, porque indiciam que o que foi dito antes não passou duma terrível mentira. Vimos ontem o primeiro-ministro e a ministra das Finanças admitirem que afinal se a venda do Novo Banco não for de montante pelo menos igual ao fundo de resolução, que então os contribuintes serão chamados a contribuir para o buraco. Mais um. O mais estranho é que há tempos atrás a governação não dizia isso, até se insurgindo a quem pensasse o contrário. isto só vem indiciar que se começa a pensar que a venda do Novo Banco não será o sucesso que afirmavam. Mas mais surpreendente ainda é a posição de Vítor Gaspar, o ex das Finanças, agora com um pelouro no FMI. Curiosamente, aquele que foi o autor do "aumento brutal de impostos" segundo a sua própria expressão, vem agora admitir que se foi longe de mais e que a austeridade é excessiva e até questionável para reerguer as economias dependentes. Uma verdadeira cambalhota que tenho dificuldade em perceber. Por mais bom profissional que se seja - e Gaspar é-o seguramente - não será admissível que depois de por um país de rastos, venha afirmar que afinal não é esse o caminho que se deveria ter seguido. Será que Gaspar, também ele, foi influenciado por este "disse que não disse" em que a governação é fértil? É que depois disto, não posso ficar surpreendido com um ministro da Educação que se refugia numa questão semântica para ocultar a maior barafunda que já se viu num início de aulas, com um secretário de Estado que acha que os professores se tiverem alguma questão deverão ir para os tribunais (!); como não posso ficar confuso com uma ministra da Justiça que acha que tudo vai bem na pasta, e que os problemas dos Citius são coisa de pouca monta e que os tribunais, afinal, estão a trabalhar sem problema algum. Confesso que tenho alguma dificuldade em entender o que se passa com os nossos governantes. Algo como uma qualquer espécie viral os deve ter atingido, ou então, a minha limitada inteligência não consegue enxergar raciocínios tão elaborados. E depois desta minha dúvida existencial nem sei bem o que fazer. Se calhar o mais sensato será esperar que este nevoeiro passe para ver se depois vem um dia radioso, mais claro, com ideias mais inteligíveis. Como dizia a minha avó de cima dos seus quase 90 anos: "Manhã de nevoeiro, tarde de soalheiro". Só que a manhã está a durar tempo que se farta...
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