A greve dos motoristas
Parece estar a caminhar para o fim definitivo a greve dos camionistas. Ela em boa verdade, já estava votada ao fracasso depois da intervenção musculada do governo. Contudo, sempre me sinto dividido quando abordo temas como este. Se acho que um punhado de pessoas não pode por em causa um país inteiro, também não deixo de olhar para as suas condições de trabalho que são as piores. Com horários alargados para além das oito horas normais, estes homens são sujeitos a condições de trabalho bem duras. À um par de anos atrás tive relações com empresas do setor e via as condições a que estes homens eram chamados a trabalhar e ouvia-lhes os desabafos sofridos. Não me posso esquecer duma célebre reunião que tive numa grande empresa transportadora em que os motoristas eram pouco mais que descartáveis. Um dos empresários que estava comigo acabou por fazer um pequeno reparo a um motorista, - coisa sem grande monta -, e logo assistimos à maneira brusca como a empresa reagiu. O empresário em causa, acabou por ficar incomodado, e viria até a amenizar as coisas para que o motorista não sofresse nenhuma represália. (Apesar disso, soubemos mais tarde que ainda o incomodaram). Sei que é preciso disciplina nas organizações, e sou o primeiro a implementá-la, mas quando esta se torna arbitrária, porque os motoristas são gente considerada menor, fico incomodado. Isto não significa que tudo esteja correto do lado dos motoristas. Desde logo a figura dum advogado que é vice-presidente, - coisa rara sem dúvida -, que ainda se gaba de que tem que aproveitar esta altura de eleições para os arrastar para a greve, ou para se aproveitar da situação para engrossar os seus clientes do escritório, - caso dos polícias e enfermeiros, segundo o que saiu a lume -, é no mínimo incrível. Já para não falar nas afirmações infelizes que fez ao longo do processo. Ao fim e ao cabo, o que move este homem é a sua situação profissional e não a defesa dos direitos dos motoristas. Depois da FECTRANS, afeta a CGTP, ter-se aproveitado da situação para desbloquear a situação que se arrastava com a ANTRAM, e do outro sindicato dos motoristas se afastar da greve porque percebeu as manobras do advogado sindicalista, é óbvio que estes motoristas das matérias perigosas estavam isolados. Seja qual for o encaminhamento que queiram dar à situação, só lhes resta negociar com os patrões porque de outro modo esta situação não tem fim. E a parte mais fraca, os motoristas, serão sempre os que serão sacrificados no altar dos interesses duma associação de patrões e um advogado oportunista.
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