Um esclarecimento que se impõe
Não costumo reagir a situações insólitas mas acho que neste caso o devo fazer porque está envolvida a comunidade brasileira onde tenho muitos amigos e por isso acho que devo esclarecer alguns mal entendidos. Tudo isto a propósito duma notícia, que tem cerca de dois dias, editada pela SIC Notícias com o título "Bolsonaro usa vídeo errado de caça a baleias para criticar Noruega". Acabei por adaptar uma frase dum tweet (curiosamente brasileiro) para fazer um reparo pitoresco ao desconhecimento do presidente do Brasil. Todos sabemos que os presidentes - sejam de que nação forem - não podem saber tudo, por isso, rodeiam-se dum grupo de assessores de várias áreas para os ajudarem sobre aquilo que têm de dizer. Neste caso concreto ao que parece os assessores falharam e o presidente foi arrastado na situação. Mas o reparo era apenas uma maneira jocosa de lidar com este caso, como tantos outros que existem por aí, sobre outras figuras da política, mesmo da política portuguesa. O que mais me surpreendeu é que Bolsonaro, - ao que julgo saber, é menos impulsivo do que outros líderes -, o que significa que com certeza terá ouvido os seus assessores. (Modo bem diferente é o de outros líderes mais temperamentais que produzem informação que nem os assessores conseguem controlar. Penso que não será este o caso, pelo menos faço-lhe essa justiça). Mas este dito trivial causou um afã de críticas da comunidade brasileira que me surpreendeu. Ao princípio nem dei por nada, até já tinha esquecido o assunto. Apenas despoletado quando me chegou uma informação que me fez ver que as coisas tinham tomado uma dimensão sem sentido. Sei que o conceito de democracia e de liberdade de expressão vai variando de latitude para latitude, e entre nós e o Brasil será bem mais ampla do que o oceano que nos separa. O que é mais curioso nisto, é que olhando para uma mesma situação com olhares diferentes, podemos ambos estar certos mesmo aparentemente não o parecendo. Já aqui trouxe a lume situações que envolvem o presidente americano e nunca nenhum americano me interpelou - e tenho alguns amigos nessa latitude. Já aqui critiquei Macron e nenhum francês me questionou sobre o caso - e tenho muitos amigos franceses. Ainda ontem aqui trouxe Merkel e o que poderá acontecer na Alemanha a curto prazo em contraponto à visão alemã de Portugal à apenas quatro anos atrás e até agora nenhum alemão se sentiu incomodado - e tenho um leque bem abrangente de amigos alemães. Sei que isto tem a ver com o conceito de entendimento da democracia e da liberdade de expressão bem enraizada na Europa. Em Portugal ela é uma benesse e dela não abdicarei. Recordo-me até dum comentário de alguém que dizia que 'eu era mais um vermelho'! Estes são argumentos de quem não tem assunto - quem não é por nós é contra nós - como vi muitas vezes acontecer no meu país à meio século atrás quando não alinhavamos pela versão oficial. (Aqui só quero dizer que vermelho só do Benfica). Nunca recorri ao golpe baixo ou à linguagem dúbia e, por isso, não tecerei mais comentários aos comentários porque tal me obrigaria a colocar-me num patamar que não costumo utilizar. Apesar disso, não deixei de apresentar as desculpas à comunidade brasileira por um possível mal entendido. Não que me sinta culpado de nada mas apenas por boa educação para com estrangeiros que residem no meu pais e que contribuem para a sua riqueza mas que também lhes dá emprego e proteção social para além do conforto de viverem num dos países mais seguros do mundo. Penso que não é coisa pouca. (Já agora gostaria de ter ouvido a mesma indignação pela maneira fria, no mínimo, com que o presidente brasileiro recebeu o presidente português na sua tomada de posse. E não nos esqueçamos foi o único presidente europeu que lá esteve). Mas também quero aqui dizer que nunca abdicarei da liberdade de expressão do meu país para dizer aquilo que penso. Se o fiz numa altura em que não se podia fazê-lo em Portugal, mais agora o farei sem por em causa o respeito devido a quem quer que seja, seja ela quem for e tenha ele o cargo que tiver. É que já estou velho - demasiado velho - para me deixar amordaçar. Coisas de velho digo eu! E, finalmente, a quem teve a coragem de ler até ao fim este texto apenas tenho que saudar a vossa temeridade e deixar aqui o meu muito obrigado.
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