Turma Formadores Certform 66

Saturday, March 30, 2024

Sábado Santo

Na minha juventude o dia de sábado era chamado de Sábado Aleluia! E porquê? Porque a meio da manhã, já se dizia que Jesus tinha ressuscitado e havia alegria nas casas, música e sorrisos. Até os sinos já se faziam ouvir ao longe. Era o prenúncio do domingo onde se celebrava em família a Páscoa. (É preciso não esquecer que Jesus era de origem judaica onde o sábado era o 'Sabbath do Senhor', o dia maior. O domingo era, e continua a ser, um dia normal como tantos outros). Os tempos foram mudando e então o Sábado Aleluia passou a ser o dia do silêncio e da esperança redentora. Jesus estava morto no seu túmulo e só ressuscitaria à meia noite. (Coisas que o calendário litúrgico instaurou um pouco à revelia dos costumes de então). Contudo, e apesar destas alterações que a Igreja introduziu, o sábado que antecede o domingo de Páscoa sempre foi para mim um dia de recolhimento. Sentia-o assim e ainda hoje o sinto. Era o dia de introspeção, de meditar na minha caminhada na vida, do que fui até hoje e do que pretendo ser amanhã. Um dia de silêncio como aquele que se segue à morte de alguém muito próximo. O repouso de quem partiu, a dor de quem ficou. Era o dia em que as trevas ainda se mostravam vencedoras desde o dia anterior, embora em breve fossem substituídas pela luz redentora. A dor inimaginável, o sofrimento sem par, a ignomínia dum poder instituído que utilizou os mecanismos mais cruéis para aniquilar um justo. Como esses tempos de à mais de dois mil anos são replicados no nosso mundo atual! Quanta dor, quanto sofrimento infligido a uma pessoa só porque ela não alinha pelos padrões vigentes e temporais - por isso, efémeros - padrões que não aceitam a diferença de opinião ou outra. Talvez este sábado - o do silêncio mas também da esperança - seja um bom ponto de partida para uma introspeção. Se pensarmos bem, afinal a diferença temporal, embora larga, não mudou assim tanto as mentalidades. E os justos serão (quase sempre) as vítimas preferenciais. Mas no fim o túmulo estará vazio - e como sempre acontece - a luz destruirá as trevas. Mais cedo ou mais tarde a luz triunfa sempre.

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