Equívocos da democracia portuguesa - 27
Assistimos na sexta-feira passada à votação sobre a avaliação dos professores. Talvez para alguns tenha sido uma surpresa, mas para nós não o foi de todo. Entre aquilo que se diz na oposição ou na campanha eleitoral, e a "praxis" quotidiana vai uma grande distância. Isto prende-se com a não suspensão do modelo de avaliação, como os professores desejavam, mas sim, uma "renovação na continuidade" - onde é que já ouvimos isto! - do célebre modelo de avaliação. O PSD, que dias antes, tinha tido uma reunião e um compromisso sobre as pretensões dos sindicatos - segundo estes mesmos o confirmaram - deu o dito por não dito, e afinal, aquilo que era tão polémico e mau, parece que afinal ainda tem algumas virtudes. O PSD, que hoje tem um papel mais importante na sociedade portuguesa, optou por uma posição bem diferente daquela que teve na legislatura anterior. E porquê? Porque é um partido do arco governamental, que amanhã poderá vir a ser governo e sabe que a avaliação é importante, e que o modelo actual não é tão mau como o queriam fazer crer. Já os outros, podem dizer o que quiserem porque sabem que não vão ter responsabilidades governamentais tão cedo. A política tem destas coisas, embora nem sempre as visualizemos com clareza. Desde logo alguns que fizeram circular na internet opiniões sem saber daquilo que falavam, - apenas era importante ir contra o governo -, depois outros, que vendo alargada a consensualização ao potencial bloco central tiveram que mudar de táctica. Quanto aos primeiros, não vamos perder tempo com eles, basta lerem o que escrevemos no passado recente neste espaço, quanto aos outros é mais grave, pelas responsabilidades políticas que têm. Referimo-nos aos sindicatos, e sobretudo, a um líder muito mediático dentre eles, Mário Nogueira, da Fenprof. Quem viu os terjeitos na Assembleia da República, a quando da aprovação do diploma - bem como de alguns dos seus acólitos -, embora posteriormente viesse fazer um discurso mais macio na SIC Notícias. Quem o viu e quem o vê. Começou a perceber que afinal não era só Sócrates o alvo a abater, havia outros, muitos outros, que só a proximidade de eleições fizeram calar. Os professores é que devem tirar daí as suas ilações, é que não basta sair à rua com 100 mil - o número não sabemos se é importante - pelo que se vê não é tanto assim. E também para uns tantos que olham para a política como se fosse a liga de futebol, não percebendo que entre os dois partidos alternativos na democracia portuguesa as diferenças não são tão evidentes quanto isso. Seria bom que lessem os programas, mas sobretudo, olhassem para a "praxis" política. Estes são os equívocos em que muitos mergulham, não percebendo que, enquanto não existirem opções mais alargadas no espectro político, as diferenças políticas não passarão de meras palavras de circunstância.
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